Por outro lado, Luís Paulo Vissunjo lamentou o facto de muitos destes monumentos e sítios históricos estarem praticamente em estado de abandono, sem um projecto imeadiato para a sua recuperação.
Salientou que por este facto muitos turistas nacionais e estrangeiros, que visitam a província do Cuando Cubango, têm como preferência a visita ao Memorial à Vitória da Batalha do Cuito Cuanavale.
"Isto faz com que também a juventude não conheça a história real do país e da província do Cuando Cubango em particular, porque a maior parte dos locais históricos está em estado avançado de degradação”, disse.
No total, há 47 monumentos e sítios históricos controlados, mas apenas cinco foram classificados como património nacional, nomeadamente o Memorial à Vitória da Batalha do Cuito Cuanavale, Triângulo do Tumpo, antigas cadeias de repressão colonial do Missombo, Túmulo do Rei Mwene Vunongue e Forte de Menongue.
Luís Paulo Vissunjo revelou que a sua instituição já procedeu à entrega de propostas ao governo da província e ao ministério de tutela para a reabilitação de alguns monumentos e sítios históricos, com destaque para as antigas cadeias de repressão colonial e escola de artes e ofícios do Missombo, e Forte de Menongue, mas até agora não há qualquer resposta ou aprovação de verbas para a execução das obras.
Recordou que há cerca de cinco anos já estava aprovado um projecto para a reabilitação e ampliação das antigas cadeias de repressão colonial do Missombo, no sentido de transformar esta infra-estrutura, que se encontra bastante degradada, num museu etnográfico com compartimentos de recreação, restauração e estabelecimentos comerciais, de forma a garantir emprego à juventude, atrair turistas e proporcionar um bom ambiente de negócios, mas que até hoje não teve pernas para andar.
Construída de pau a pique e arame farpado, em 1961, pelo governo português, na antiga cadeia de repressão colonial do Missombo chegaram a estar encarcerados cerca de 800 nacionalistas angolanos que participaram das acções contra o regime colonial português.
Dos vários presos políticos que passaram pela referida unidade prisional, destacam-se os do Processo 50, Imperial Francisco Santana, Salvador Sebastião, Paiva Domingos da Silva, Manuel Pedro Pacavira, Virgílio Francisco Sotto Mayor, Afonso Dias da Silva, David Massango Machado (Minerva), Pedro José Van-Dúnem e outros, que demonstraram a sua bravura para a conquista da Independência Nacional.
Sublinhou que neste momento os monumentos e sítios históricos na comuna do Missombo necessitam de uma intervenção urgente, porque está a se registar a implementação de muitos projectos económicos e sociais que estão a invadir as zonas históricas.
Luís Paulo Vissunjo apontou que outra situação que dificulta a visita de turistas aos locais históricos da província são também as más condições das vias de acesso, porque muitas áreas ainda são suspeitas de minas e outras estão em avançado estado de degradação, o que impossibilita a circulação de viaturas.
Património nacional
Luís Paulo Vissunjo disse que existem outros monumentos e sítios históricos que são de extrema importância e que também merecem ser classificados como património nacional, com realce para o cemitério de campanha aos heróis da Batalha do Cuito Cuanavale e as antigas missões católicas e protestantes do Sendje, Cuangar, Chamavera e Santa Maria do Norte, que formaram vários religiosos, nacionalistas e intelectuais angolanos, namibianos e sul-africanos.
Segundo o historiador, estas missões foram locais que antes contribuíram para a formação de milhares de pessoas e que hoje devem ser reactivadas ou recuperadas para que possam continuar a desempenhar o seu real papel para o bem-estar social da sociedade.
O director provincial da Cultura, Juventude e Turismo defendeu também a classificação como património histórico nacional a estátua do Rei Mwene Vunongue, o cemitério dos reis no município do Cuchi, o memorial dos massacres no Cuangar e a zona de Salandaviti, junto à margem do rio Cuito, onde foi lançado o primeiro rei Mbingo Mbingo com vida, amarrado com algumas pedras pesadas ao pescoço e na cintura, para morrer afogado.
Na sua visão, constitui igualmente prioridade o local junto às margens do rio Lomba, onde começou no dia 15 de Novembro de 1987 a Batalha do Cuito Cuanavale e que registou a morte de centenas de angolanos e sul-africanos.
"São memórias que devemos indagar, preservar e divulgar estes valores culturais e históricos do povo angolano”, disse, acrescentando que urge a necessidade de se valorizar estes sítios e se fazer alguma coisa que seja de grande importância, porque são lugares que devem ser preservados para que as novas gerações tenham contactos com os valores históricos e culturais do país.
Levantamento de locais anónimos
Luís Paulo Vissunjo informou que neste momento a sua instituição está a trabalhar também no levantamento e pesquisa de locais históricos que estão no anonimato, para que os mesmos sejam conhecidos e enriqueçam ainda mais os valores históricos e culturais da província.
Destacou que o projecto já teve o seu arranque nos municípios do Dirico, Calai, Cuangar e Nancova. "Estamos a fazer um trabalho de levantamento e pesquisa, tendo em vista que a província é rica em monumentos e sítios históricos, mas que existem muitos locais que necessitam de ser investigados, porque há informações em alguns municípios da província que carecem de um estudo mais aprofundado”, disse.
Fez saber que existem técnicas próprias para aferir quando é que se trata de um monumento ou sítio histórico, assim como ver qual a relevância que o local tem para com a sociedade.
Luís Paulo Vissunjo citou como exemplo que existia uma aldeia onde habitavam muitas pessoas na comuna do Lupiri, no município do Cuito Cuanavale que, segundo a história, virou repentinamente uma lagoa, por causa de um erro tradicional que alguém cometeu e que não se podia fazer quando estava a realizar o acto de circuncisão de alguns meninos.
Acrescentou que até hoje a lagoa existe, mas é preciso chegar ao local e fazer-se um levantamento e estudo profundo com alguns mais-velhos que na altura testemunharam ou foram informados deste acontecimento inédito.
O historiador disse ainda que existem muitas coisas que estão no anonimato, mas "à medida que vamos aprofundar a nossa investigação de município por município e comuna por comuna, serão identificadas para constarem no registo do património histórico material da província”, disse.
Luís Paulo Vissunjo informou que a Cultura estabeleceu uma parceria com a Universidade Cuito Cuanavale.