Escritor F. Tchikondo lança em Kigali um romance que luta contra o afro-pessimismo
O embaixador angolano no Rwanda, Eduardo Octávio, sublinhou, ontem, durante a cerimónia de celebração dos 21 anos do Dia da Paz e Reconciliação Nacional, que este feliz acontecimento coincide com o facto de Angola estar alinhada com os países membros da União Africana que criaram a arquitectura de paz e segurança africana em 2002, enquanto resposta estrutural de longo prazo aos desafios para paz e segurança nacional entre os povos no continente africano.
Eduardo Octávio referiu que através desta estrutura, a União Africana e as organizações subregionais podem dispor de instrumentos que permitem os países africa-nos prevenir, gerir e resolver os conflitos internos e inter-regionais para alcançarem a paz.
"As realidades vivenciadas pelo Rwanda, que alcançou a paz em 1994, e Angola, que teve a sua paz efectiva em 2002, são exemplos evidentes da necessidade de se preservar a paz e a reconciliação nacional, que permita os países africanos definerem estratégias e esforços comuns, que lhes propicie vantagens para um desenvolvimento e esforço económico, social, cultura e científico e que toda a população possa viver em paz e harmonia”, exemplificou.
Para o embaixador, a continuidade do reforço das relações políticas, diplomáticas, económicas, científica e cultural entre as repúblicas de Angola e Rwanda, justificam o lançamento do romance do escritor angolano F. Tchikondo, intitulado "O Grande Império Kassitur na Dinastia Sekele” em Kigali, significando mais um passo dado na fortificação da diplomacia cultural entre os dois países. Segundo o diplomata, os leitores ruandeses vão ter a possibilidade de ler uma obra interessante que não deve ficar apenas pela edição em português, mas sim ser partilhada por diversos públicos de diferentes pontos de África, contribuindo para as relações culturais, científicas e políticas entre os países.
No âmbito daquilo que é a divulgação da cultura angolana no exterior e a mobilização de opiniões e recursos a favor do país, explicou haver em todas as efemérides programas de actividades significativas, respectivamente lúdicas, culturais e desportivas.
Quanto aos benefícios dos acordos de cooperação, o embaixador enfatiza que os angolanos estão isentos de Visto nas suas deslocações ao Rwanda, país com o qual celebrou acordos em diferentes ramos, dentre os quais a aviação civil, saúde, justiça e direitos humanos, agricultura, administração local e petróleo e gás.
No total, a comunidade angolana em Kigali tem aproximdamante 100 membros, sendo a maioria estudantes. O presidente da Associação dos Estudantes Angolanos em Kigali, Ernesto Praia Tchalala, é um deles. É natural do Huambo, município da Caála, e faz 5 anos que fixou residência no Rwanda. Segundo conta, decidiu seguir a Kagali por razões académicas, onde actualmente conseguiu concluir o mestrado em Teologia e neste momento está a fazer a pós-graduação em Liderança. Assume ter muitas saudades do seu país de origem mas ainda não vê data para sair do Rwanda. Ainda fala umbundu fluentemnte, a sua língua materna.
"Apesar de estarmos longe da terra, é sempre um sentimento de orgulho pudrermos celebrar um dia tão importante para o nosso país, e penso que essa paz é contagiante. A paz representa muito para África em geral, principalmente para nós jovens, que ainda temos muito pela frente”, disse.
Luta contra o afro-pessimismo
O lançamento da versão em inglês do romance de F. Tchikondo foi o ponto alto das comemorações do Dia da Paz, organizado pela Embaixada de Angola no Rwanda. Para além da comunidade angolana naquele país, marcou presença o corpo diplomático das várias embaixadas acreditadas no Rwanda. No momento de apresentação do livro, o escritor angolano detalhou que o seu romance prende-se profundamente com a África, e procura chegar ao futuro deste continente. F. Tchikondo explicou que procura transmitir no conteúdo deste livro uma mensagem contra o afro-pessimismo que ainda vigora muito nos dias actuais.
"Ainda existe a ideia errada de que a África nunca vai sair da pobreza, do estado subdesenvolvido em que se encontra. Isso é muito ofensivo para os africano, a quem recai a ideia de que ele por si só não se sabe governar, com dificuldades de gerir os seus interesses. O livro pretende mostrar que a África tem tudo para ser o continente mais avançado do mundo”, defende.
O escritor justifica argumentando que a África tem potencialidades naturais que bastam, sendo um reservatório de recursos naturais de toda a humanidade, possui a população mais jovem de todo o mundo e tem mostrado uma grande capacidade de resistência e resiliência enormes.
"África tem tudo para atingir este patamar que o livro indica, de um continente desenvolvido cientificamente, tecnologicamente e economicamente. É esta África que nós queremos homenagear com a publicação deste livro. Mas também queremos reconhecer que há países que já estão a dar sinais de que é possível atingir este nível, e um deles é o Rwanda, que tem feito um trabalho muito bom e exemplar que posam atingir níveis elevados de desenvolvimento”, destacou.
O reverendo Lei Gomes, que fez uma análise social da temática livro, explicou que a obra de F. Tchikondo é uma ficção futurista africana que pode tornar-se uma realidade. Na sua opinião, a África vive uma situação caótica desde o periodo em que perdeu a sua supremacia no Egito, causando uma crise antropológica que dura há mais de quatro séculos.
"África vive numa programação mental, como se fossem software que permitem a dominação do africano. Para sair dessa formatação mental é preciso que haja instrumentos e meios, alguns dos quais relacionados com a física quântica. O livro "O Grande Império Kassitur na Dinastia Sekele” é praticamente um software de desprogramação. O escritor fez no livro um grande exercício quântico ao mostrar essa viagem de 150 anos a nossa frente. É um exercício muito interessante. É um caminho para libertar África”, defendeu.
O secretário-geral da União dos Escritores Angolanos, David Capelenguela, fez a análise literária do romance, enquanto que o seu homólogo, Richard Hategekima, presidente da Confederação dos Escritores do Rwanda, reconheceu que o lançamento permitiu estreitar as relações entre as duas agremiações.