Chelsea Dinorath: “Quero estar em grandes palcos”

A artista revelou que o disco "Catarse” é a concretização de um sonho. "Sinto que a minha música está a ser bem expandida e reconhecida, acima de tudo. Sinto que as pessoas consomem realmente a minha arte e, para mim, não tem preço ter conseguido vencer as duas categorias do Top Rádio Luanda. Isto motiva-me a continuar”.

A voz de "Sodade” diz que o álbum "Catarse” não foi lançado em função dos prémios e argumenta da seguinte forma: "já tínhamos preparado era suposto lançarmos, mas tivemos constrangimentos de ordem técnica e em relação às gravações, preferimos criar com mais calma a produção dos vídeoclipes. Felizmente, coincidiu com este processo que terminou com a conquista dos prémios”.

Dinorath fez a seguinte revelação: "o projecto ‘Céu Azul’ foi o boom para a minha carreira. Eu já tinha trabalhos lançados, mas, sem dúvida o reconhecimento veio depois deste projecto. Na verdade, com o Dj Black Spyro já tínhamos tudo, mas era para um outro projecto, só que depois eu ouvi a música, gostei e quis participar. Os artistas curtiram a ideia, então gravei, mas não gostei da minha parte, só que depois o Spiro disse ‘acredita nos meus ouvidos, vamos fazer isto acontecer’. Deu certo! Ele postou um ‘teaser’ da música onde aparecia a minha parte, as pessoas gostaram e em menos de um dia tinha mais de 150 mil visualizações. Então vi que estava no caminho certo. De lá para cá lancei mais algumas músicas”.

Segundo Chelsea Dinorath, a primeira música foi "Sodade”, que tem agora quase dois milhões de visualizações, o que para ela não tem preço, por estar a fazer um trabalho a solo e se tratar "de um número difícil de alcançar nesta condição”. Considera que "Sodade” é uma das músicas mais maduras que tem, porque a tem escutado a ser cantada "por muita gente” entre os 40 e 50 anos de idade.  

Madura e "sem tendências”

"Penso sempre  passar a mensagem da forma mais directa possível, e madura também. Eu não canto apenas para as pessoas da minha idade, canto para todo o mundo. Uma criança pode cantar a minha música porque não encontra nela ofensa, canto numa linguagem meio universal e abrangente”.

Chelsea Dinorath distancia-se de linguagens obscenas e do sexismo, dentre outros recursos usados por artistas jovens para garantir popularidade. "Não sigo tendências, faço, literalmente, a minha arte. Imagine, sou uma das poucas cantoras a fazer Afrobeat, tanto que eu digo aos meus amigos que o pessoal presta tanta atenção à minha música por ser diferente. Estamos muito habituados a ouvir Kizomba, Gheto Zouk e se calhar por eu começar a fazer algo nesta zona, as pessoas começaram a prestar mais atenção e isso diz muito sobre mim”.

E prossegue: "a forma como eu canto hoje é a mesma de sempre, há dez anos eu já misturava o inglês com o português e o francês e tinha o cuidado todo na linguagem. Nunca segui tendências e padrões, faço aquilo que me deixa confortável. Penso que existem muitas maneiras de fazer as pessoas entender. Gosto de deixar uma linguagem meio subjectiva para dar às pessoas a capacidade de imaginar e criar o que  quiserem sobre o que estou a cantar”. 

Relação com outros artistas

"É boa a minha relação com todos os artistas. O segredo é o respeito. Devemos respeitar quem chegou primeiro. Independente das nossas diferenças, é importante respeitar quem faz a mesma arte que tu, por isso a minha relação é boa com todo o mundo, tanto com os da minha geração como os da velha guarda”.

A relação profissional de Chelsea Dinorath com Preto Show começou há três anos, e, tempos depois, descobriram que tinham laços familiares com raízes em Cabinda. "Sempre fui atrás dos meus objectivos. Eu mandava-lhe mensagens e uma vez ele respondeu, numa época em que estava a produzir o EP dele. Trocámos ideias e convidou-me para participar. Foi aí que eu conheci o Lurhany e desde então começamos a trabalhar”.

Ao longo da conversa foi visível a forte presença da influência da família no resultado da arte de Chelsea. Do pai não herdou apenas o gosto pela música. "Antes de estar na música eu amava ver o meu pai a representar. Eu digo ao meu manager, Manoel Giardini, que a melhor parte do vídeoclipe é ver o resultado, porque aí começo a ver-me  realmente enquanto artista. Já pensei em participar em novelas, filmes e tudo mais. Algo que me corre nas veias, assim como a música, é a cinematografia. Não digo que arriscaria, mas gosto. Mas de momento a prioridade é a música. Já vou me soltando mais e se aparecer uma oportunidade,  quem sabe...”

É no meio familiar que, de forma  natural, entraram as sonoridades que estão reflectidas na vida e arte  de Chelsea Dinorath. "A minha essência é o Afrobeat, a Black music... Eu ouvia muita música dos anos 90, apesar de não ter nascido nesta época. Cresci numa família de amantes de boa música. Por exemplo, Fela Kuti eu comecei a ouvir por causa do meu tio. E o meu avô consumia Erika Badu, Whitney Houston, Alliyah, Beyoncé, Drake..., enfim, eu bebia muito desta linhagem do R and B, do Hip Hop”.  

Projectos e ambições

A cantora e a sua equipa têm como prioridade a promoção e divulgação do disco "Catarse”, mas já fazem outros planos. "Penso cantar em Ibinda ou os ritmos de Cabinda. Gosto de interpretar e ainda que eu não fale a língua peço sempre ajuda para um melhor enquadramento. Quero mostrar a nossa cultura. Podemos seguir o exemplo de Burna Boy, como ele canta em Yoruba e combina os ritmos nigerianos com outros. Hoje é a estrela mundial que todos conhecemos. Já que estou a ter esta visibilidade toda, quero mostrar a nossa cultura”.

Depois do lançamento do seu disco no Espaço Fábrica, em Talatona, Luanda, e noutros pontos do país, Chelsea anunciou, em primeira mão ao Jornal de Angola: "em Agosto, estarei no Festival Sol da Caparica, num palco que me dará visibilidade para mostrar a minha cultura e de onde venho. Tenho fé que estarei em palcos muito grandes. Quero actuar nas zonas periféricas e nos palcos mais populares do meu país. Reconheço que toco em sítios não tão acessíveis, mas eu e a minha equipa queremos conhecer e animar esses lugares. Muitos que apreciam o meu trabalho vivem nessas zonas”.

Chelsea pretende gravar coisas novas. O seu objectivo é não ficar acomodada. "Quero fazer colaborações com artistas internacionais. O meu foco não é só Angola, é África e o mundo, para expandir um pouco mais a nossa arte e cultura, mas, acima de tudo, para explorar mais outras margens, como a Nigéria, tentar beber um pouco mais de outras culturas africanas. Estou aberta para sair da minha zona de conforto”.

Chelsea Dinorath não gosta de fazer planos a longo prazo, para não criar muitas expectativas. Mas, para os próximos três anos, arrisca. "Vejo-me em palcos como o Cooldjela, mas a representar, literalmente, a cultura angolana e africana. O meu propósito é este, sinto que Deus não dá um dom para ficar para si ou para um círculo limitado de pessoas. Sempre que eu tiver oportunidade de levar a minha cultura e a minha arte para outros lugares e continentes, eu vou levar”.

A jovem artista continuou: "vejo-me bem estabilizada financeiramente para deixar bem aqueles que são meus, assim como uma artista grande e bem reconhecida, acima de tudo. Uma cantora de consciência limpa por saber que conseguiu passar o que a minha alma sempre quis. As minhas músicas são meio que uma conversa entre a minha alma com as pessoas e digo sempre que nunca sou eu. Quando é um dom tu nunca consegues dizer o que te motivou a escrever, qual foi a inspiração. Isto não se explica. Eu quero sentir que elas, as pessoas,  realmente conseguiram perceber quais são os meus propósitos aqui na terra”.  

Manoel Giardini, "o cara” 

Foi Manoel Giardini, um brasileiro de origem italiana com um histórico na gestão de carreiras e de palco com artistas internacionais, o responsável pelo "furo” que constitui esta nossa conversa com Chelsea Dinorath. E não deixámos de falar com ele para nos pôr a par dos novos desafios na carreira da cantora. "Agora estamos a preparar o conceito para levar ao vivo este projecto. O álbum é uma porta para mudarmos, mostrando uma Chelsea mais madura. Começaremos com actuações com a banda, quando for possível. Queremos explorar diferentes sonoridades. Pretendemos apresentar agora um show mais elaborado. Só com o Dj a sonoridade dela é pouco explorada. A Chelsea é muito musical e é este lado que será apresentado no palco”.

Manoel Girardini prosseguiu: "acompanho a carreira dela desde os últimos cinco meses e vejo a sua evolução em palco. Recordo que nos primeiros shows ela era muito tímida em palco e os contratantes ficavam meio desiludidos. Hoje é diferente, ela já fica mais à vontade, fruto de um trabalho de equipa. Fizemos aulas de preparação de canto e outras técnicas para uma melhor apresentação. Dormimos pouco e estamos sempre com a cabeça a mil porque conversamos até altas horas para pensarmos no que fazer para continuarmos. A música é uma luta diária em que devemos estar a tempo inteiro”.  

Catarse e libertação

Chelsea Dinorath escreveu no texto de apresentação do seu disco: "trago um pouco mais de mim, um pouco do que sou, um pouco da forma como enxergo a minha arte e as energias à minha volta. Para mim é uma pequena amostra da imensidão dos meus sentimentos mais puros. Catarse significa libertação de sentimentos ou emoções reprimidas, que conduz a uma sensação de alívio ou pacificação”.

Quanto à concepção gráfica do disco, encontramos a seguinte justificação: "a cor azul representa tanto a expansão do céu como as profundezas do mar. Por simbolizar espiritualidade, pensamento, infinito, vazio, eternidade e transparência, significa verdade e lealdade”.

O disco "Catarse” tem a produção da Banger Boys, de Preto Show e 2CDM e a distribuição da ONERPM. Foi gravado entre Portugal e Angola. O projecto tem a produção artística do brasileiro Manoel Giardini e Preto Show. Encontramos nele os temas "Unfollow”, "Sodade”, "Weya” e "Silhueta da Dor”, com música e letra de Chelsea Dinorath. Nos temas "Traços”, "Ntima”, "Salvar-nos” e "Maré” surgem as participações de Edgar Domingos, Lurhany, Agir e Kide Wime. Na produção musical Chelsea recorreu a jovens promissores em Angola e Portugal: Téo do Beat, Mallaryah, Xixi Beats e Mr. Carly.

Na ficha técnica um nome chama a atenção: Téo do Beat.  "Ele faz parte da Banger Boyzs, daí a razão de ser o autor da maior parte dos instrumentais que eu canto. Quanto às participações, tenho a do Edgar Domingos, artista  que conheço e com o qual já pensava em fazer uma música, apenas aguardávamos o momento exacto. O Kid Wime é um amigo de infância, foi uma das pessoas que me motivou a cantar. Desde a segunda classe que ficávamos a brincar de interpretar. O Agir, um músico português que lá, em Portugal, é popstar. Aprecio muito o seu trabalho. Foi ele   que entrou em contacto comigo, era suposto fazermos uma música para ele, mas gostamos tanto que acabou por ficar minha com a participação dele. Tenho um carinho muito grande por ele. Tenho ainda o Luharny, que também faz parte da produtora e é meu mano. Temos projectos antigos e ele não tinha como não estar. Tenho o Mr. Carly que me ajudou a escrever "Sodade”, a parte em crioulo, porque não falo crioulo”, explicou Chelsea.

 

"Ntima”, a homenagem aos pais

"Eu quis deixar no álbum apenas coisas relacionadas a questões amorosas. Só que depois conversei com o Preto Show e o meu manager  e eles aconselharam-me a fazer uma música para os meus pais. Nunca gostei de mostrar tanta ou alguma coisa que retratasse a minha vida pessoal de forma muito directa. Sou muito emotiva e além disso é um tema que acaba por mexer muito connosco. Todo o mundo sofre muito com a perda de um pai e ainda quem não tenha perdido sofre por antecipação”.

Ainda falando da música que a fez deitar lágrimas no espectáculo de apresentação, com a mãe na sala, Chelsea continuou: "cantar sobre os meus pais foi uma das maiores aventuras até agora. Mas é das coisas mais bonitas porque consegui homenagear a minha mãe e sei que é algo que ela vai poder ouvir sempre que ela quiser e ter noção do quanto eu a amo. É uma das músicas mais bonitas do álbum”.

Em relação ao pai, Raúl Danda, em "Ntima” a cantora escreveu assim: "Papá, me ouve só / Pra veres o quanto dói / Eu morro por dentro / Cada vez que me lembro que não te tenho / Morro por dentro / Me perdoa por ter estado distante / E pelos meus erros”.

Chelsea explicou: "quando pedi desculpas ao meu pai não foi por ter problemas com ele, mas porque, como sabem, eu não vivo cá e nos seus últimos momentos quando vinha cá estava sempre na correria. Já trabalhava com a música e ele também tinha outra correria por causa da função que exercia e não conseguíamos ficar tão juntos como antes”.

Em relação à mãe, Chelsea afirma: "é no sentido de já termos passado por tantas coisas, aqueles conflitos internos por não conseguirmos ter êxitos em alguns planos que nós as duas tínhamos. Por isso há um trecho em que eu digo que os meus planos meio que foram frustrados ‘mas sempre estivestes aí por nós’. Independentemente de não ter dado certo, ela nunca baixou a cabeça e foi atrás de uma coisa melhor para repor aquela que nós não tivemos”.


Revelação da música angolana

Chelsea Dinorath António Danda nasceu em Luanda aos 24 de Fevereiro de 2000. Começou a mostrar a sua paixão pela música aos 4 anos, em função da exposição artística que tinha no seio familiar.  Cantava na sua turma da escola, onde era sempre aplaudida e incentivada a continuar.

Sempre teve como base os estilos R&B e Soul. E aos 12 anos de idade gravou a sua primeira música, "Girlfriend”, no gravador do telemóvel, sem a mínima qualidade, e a postou nas redes sociais. Ficou dois anos e meio sem cantar, dedicando-se mais à literatura. Em 2016 lançou a sua primeira música profissional, intitulada "Me Abala”, com a participação de Tchoboly. No mesmo ano, ingressou no grupo musical B-UNIK, no qual descobriu o seu potencial no estilo Rap. Gravou e lançou várias músicas, sendo membro do grupo até 2018. No mesmo ano, lançou a música "Retrato Perfeito”. Em 2020, participou do EP "Vibe” de Preto Show, com Lurhany e Téo do Beat,  ingressando na produtora Banger Boyzs.

Em 2021 lançou o single "Toi Et Moi”. No ano seguinte participou do projecto "Versos e Poesias – Céu Azul”, dirigido por Black Spygo. No final de Setembro, lançou a música "Sodade”. Em Novembro, lançou a música "Melhor”. No dia 10 de Fevereiro, lançou o single "Unfollow”.

De acordo com a biografia oficial, Chelsea Dinorath soma, actualmente, mais de 2 milhões de visualizações no seu canal do YouTube, mais de 80 mil ouvintes mensais no Spotify, sendo considerada a cantora da nova geração (e não só) mais ouvida em Angola na mesma plataforma. Teve a carreira alavancada após a sua participação no projecto "Versos & Poesias 4” do Dj Black Spygo, em Julho de 2022, somando mais de 10 milhões de visualizações no YouTube e mais de 1 milhão de streaming.  "Sodade” tem mais de 1 milhão de visualizações e em várias plataformas digitais transformou-se na "mais querida do povo angolano”.

Divulgou o seu trabalho além fronteiras, tendo feito shows em várias cidades de Portugal. Em Angola já esteve em sete das 18 províncias, nomeadamente: Benguela, Huambo, Huíla, Luanda, Moxico, Lunda-Sul e Cabinda. Em Setembro de 2022, fez o seu primeiro espectáculo em França (Paris) e em Outubro daquele ano em Luxemburgo. Tem concertos agendados para este ano na Guiné Bissau, Inglaterra e Suíça.

Foi indicada, em Janeiro de 2023, ao Top Rádio Luanda, um dos maiores de Angola, tendo sido nomeada para as seguintes categorias: "Voz Feminina do Ano”, "Voz Feminina Revelação”, "Gheto Zouk” e "Afrobeat Fusion”. Em Março venceu nas categorias de "Voz Feminina do Ano” e "Voz Feminina Revelação”. Foi a confirmação de que Chelsea Dinorath é uma das vozes mais sonantes e em ascensão da Música Popular Urbana Angolana.

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