Timosse Maquinze, antigo líder de guerrilha do braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal força de oposição, exigiu a demissão do presidente do partido, Ossufo Momade, acusando-o de “comprovada incapacidade” de liderar o partido.
Segundo Timosse Maquinze, o presidente do maior partido da oposição moçambicana tem violado "sistematicamente” os estatutos da Renamo e, por isso, é necessário que se convoque um congresso extraordinário para nomear um novo líder, de forma pacífica. "Comprovada a incapacidade do presidente Ossufo Momade de liderar a Renamo, exigimos que o presidente do conselho nacional convoque com urgência um congresso extraordinário para que, de uma forma pacífica, a Renamo encontre uma liderança que corresponda aos anseios dos membros do partido”, referiu Timosse Maquinze.
Maquinze acusa ainda Ossufo Momade de criar um grupo para perseguir e expulsar membros sem razões plausíveis na base central do braço armado do partido na Serra da Gorongosa (Centro), bem como de cortar os subsídios de muitos membros e funcionários. "Ossufo Momade criou o grupo de esquadrões de morte para incutir medo nos membros dentro do partido”, referiu o líder de guerrilha, que promete recorrer à comunidade internacional caso Ossufo Momade se recuse a abandonar a liderança, como forma de garantir que o processo decorra de forma pacífica. "Nós vamos pedir ajuda a comunidade internacional para o aconselhar a deixar o poder, porque nós não somos pela guerra, mas sim pela paz”, frisou.
O porta-voz da Renamo, José Manteigas, adiantou que o partido está surpreso com as declarações do antigo líder de guerrilha, referindo que Maquinze foi uma das "presenças notáveis” no congresso que elegeu Ossufo Momade. "O pronunciamento do general Maquinze surpreende-nos porque ele é uma das figuras que temos no nosso seio e cuja voz é sempre ouvida”, disse Manteigas, citado este domingo pela Rádio Moçambique.
Estas posições sobre Timosse Maquinze ocorrem quando falta apenas uma base da antiga guerrilha da Renamo por encerrar, no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) previsto no acordo de paz assinado com o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), o terceiro entendimento entre as partes, todos assinados na sequência de ciclos de violência.
Esta é a segunda vez que um influente membro do braço armado do maior partido de oposição no Centro de Moçambique pede a saída de Ossufo Momade desde a sua eleição, em 2019, após a morte, em 2018, do histórico líder Afonso Dhlakama. Meses após a eleição de Ossufo Momade, Mariano Nhongo, também outro influente líder da guerrilha do partido, criou a autoproclamada Junta Militar da Renamo, um grupo dissidente da principal força política de oposição que exigia a saída de Ossufo Momade.
Mariano Nhongo viria a ser abatido numa mata do distrito de Cheringoma, província de Sofala, Centro do país, durante uma troca de tiros com uma patrulha policial, após meses de ofensivas das forças governamentais visando travar os ataques armados do seu grupo, responsável pela morte de mais de 30 pessoas em estradas e povoações das províncias de Manica e Sofala, segundo as autoridades.
Cooperação com a Índia
A comissão mista Moçambique-Índia reuniu-se ontem em Maputo, para avaliar o "estágio da cooperação” entre os dois países, no âmbito de uma visita de trabalho que o chefe da diplomacia indiana realiza ao país africano, indicou fonte oficial. De acordo com uma nota oficial do Governo moçambicano, a comissão é presidida por Verónica Macamo, ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, e co-presidida pelo titular da pasta das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar.
A 5ª sessão da comissão mista Moçambique-Índia serviu também para a avaliação do grau de implementação das decisões tomadas na última sessão, realizada em Nova Deli, em 2018, e traçar actividades futuras. "O evento, que decorreu no quadro do reforço e aprofundamento das relações de amizade e cooperação existentes entre os dois países, foi antecedido de um encontro privado entre a ministra Verónica Macamo e o ministro Subrahmanyam Jaishankar", acrescenta-se no documento.
Os últimos dados sobre as relações económicas indicam que Moçambique e Índia atingiram em 2018 cerca de 1,7 milhões de euros em trocas comerciais, uma subida face aos 1,5 milhões no ano anterior. No primeiro trimestre de 2020, a Índia foi o segundo maior parceiro comercial de Moçambique, logo depois da África do Sul, tanto ao nível de importações como exportações, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE) moçambicano.
O carvão, a castanha de caju e o feijão estão entre os principais produtos que a Índia compra a Moçambique. Em 2021, o Governo da Índia doou duas embarcações militares ao Governo moçambicano para reforçar as operações de combate contra os grupos rebeldes em Cabo Delgado, no Norte do país.