Exército sudanês enfrenta rebeldes numa tentativa de golpe de Estado

Explosões e tiros foram ouvidos, ontem, ao fim da manhã, em torno da capital do Sudão, disseram correspondentes da AFP e testemunhas, que relataram “confrontos”perto de uma base mantida pelas Forças de Apoio Rápido paramilitares no Sul de Cartum.

Repórteres da AFP ouviram tiros perto do aeroporto de Cartum, bem como no norte da mesma cidade. No centro desta disputa entre o Exército sudanês e as forças paramilitares está uma proposta de transição para o governo civil.

Os paramilitares do Sudão disseram que estavam no controlo de vários locais importantes, após luta com o exército regular, incluindo o Palácio Presidencial no centro de Cartum. Num comunicado, as Forças de Apoio Rápido (RSF) disseram que assumiram "controlo total” do palácio presidencial, bem como dos aeroportos de Cartum e Merowe, no Norte do país. A mesma fonte disse que estes movimentos vieram em resposta aos ataques do exército regular às bases RSF no Sul de Cartum.

"As Forças de Apoio Rápido foram surpreendidas na manhã de sábado por uma grande unidade das forças armadas que entrou no quartel-general das forças no campo de Soba em Cartum”, disse o grupo num comunicado. O grupo disse que o exército sitiou "as forças presentes para as atacar com todo o tipo de armas pesadas e ligeiras”, lê-se no comunicado, citado pela agência espanhola EFE.

Fontes do governo, disseram que a sua força aérea havia desencadeado vários ataques contra posições dos paramilitares, a quem acusaram de ter tentado um golpe de estado, garantindo ter a situação sob controlo. A televisão Al Jazeera, com sede no Qatar, mostrou imagens em directo de algumas zonas da capital, Cartum, em que se ouviam tiros e explosões, sendo visível muito fumo, incluindo perto do palácio presidencial. Também havia relatos de combates noutras cidades.

O RSF é liderado pelo vice-presidente do Conselho Soberano e número dois do exército, Mohamed Hamdan Dagalo. Há dois dias, o exército sudanês advertiu que o país está a atravessar uma "conjuntura perigosa” que poderá levar a um conflito armado.

O exército sudanês, por seu turno, já havia acusado este sábado que paramilitares atacaram as suas bases em Cartum e em outros lugares. "Combatentes das Forças de Apoio Rápido atacaram vários acampamentos do exército em Cartum e em outros lugares pelo Sudão”, disse à AFP o porta-voz do Exército, brigadeiro-general Nabil Abdallah. "Os confrontos estão em andamento e o exército está cumprindo o seu dever de proteger o país.”

Ao fim da manhã, o embaixador dos Estados Unidos no Sudão, John Godfrey, pediu que o Exército sudanês e os paramilitares das Forças de Acção Rápida (RSF) que parassem imediatamente com as hostilidades. "Acordei com os sons profundamente perturbadores de tiros e confrontos. Agora estou abrigado com toda a minha equipa, como os sudaneses estão a fazer em Cartum e noutros lugares”, escreveu na sua conta no Twitter. "A escalada de tensões dentro da componente militar rumo ao confronto directo é uma circunstância extremamente perigosa e apelo urgentemente ao alto comando militar para que cesse os combates”, pediu o embaixador.

A Embaixada da Rússia no Sudão também pediu o fim dos confrontos e instou os cidadãos russos na capital a permanecerem nas suas casas, longe das janelas, segundo um comunicado divulgado pela agência TASS. 

Aviso

A meio da semana, o exército sudanês alertou que o país vivia uma situação perigosa que pode levar a um conflito armado na sequência da mobilização de unidades do grupo paramilitar mais poderoso do Sudão na capital Cartum e outras cidades. De acordo com o porta-voz militar, Nabil Abdalá, citado pela Reuters, o país atravessa uma conjuntura perigosa, cujos perigos aumentaram, uma vez que a direcção das Forças de Apoio Rápido (FAR) mobiliza forças dentro da capital e em algumas cidades sem o consentimento ou coordenação das Forças Armadas.

Afirmou que esta mobilização das FAR desencadeou "uma onda de pânico e medo entre os cidadãos e aumentou a tensão e o risco entre as forças regulares”. Por seu turno, as FAR afirmaram, quarta-feira à noite em comunicado que estão trabalhar "em plena coordenação e harmonia” com as Forças Armadas e que as suas deslocações na região "estão dentro das suas tarefas e deveres nacionais garantidos por lei”.

A tensão aumentou entre as Forças de Apoio Rápido e as Forças Armadas Sudanesas na sequência do encontro sobre a reforma militar e de segurança recentemente organizado em preparação para a integração e unificação das FAR no Exército, conforme estipulado no acordo-quadro assinado entre as duas partes em Dezembro. As FAR são uma força paramilitar liderada pelo vice-presidente do Conselho Soberano e número dois do Exército, Mohamed Hamdan Dagalo, que surgiu das milícias Yanyawid, acusadas de crimes contra a humanidade durante o conflito de Darfur (2003-2008). O grupo também foi acusado de matar e sequestrar manifestantes pró-democracia durante a chamada revolução sudanesa, que em 2019 derrubou o governo de três décadas de Omar al Bashir. 

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