O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, definiu, sexta-feira, como “prioridade imediata” no Sudão um cessar-fogo de “pelo menos três dias”, tendo em conta o “Eid al-Fitr”, celebração muçulmana que marca o fim do jejum do Ramadão.
Questionado sobre o motivo para acreditar que este eventual cessar-fogo teria um resultado diferente das duas tentativas anteriores – que falharam -, o ex-Primeiro-Ministro português disse confiar na questão da religião.
"Acho que há uma forte razão – todas as partes no conflito são muçulmanas. Estamos a viver um momento muito importante no calendário muçulmano. Acho que este é o momento certo para um cessar-fogo que é crucial no momento actual. Estamos em contacto com as partes, acreditamos que seja possível, mas todos devem estar unidos para fazer pressão para que o cessar-fogo ocorra efectivamente”, avaliou.
O Secretário-Geral da ONU assegurou que tem estado "pessoalmente empenhado” para que as hostilidades cessem, apelando a um diálogo sério que permita uma transição bem-sucedida, "começando com a nomeação de um Governo civil”.
O chefe das Nações Unidas manifestou ainda preocupação com o número de vítimas civis, com a situação humanitária e com a perspectiva de uma nova escalada do conflito. "As Nações Unidas estão com o povo sudanês, em total apoio aos seus desejos de um futuro pacífico e seguro e um retorno à transição democrática”, frisou.
O general Abdel Fattah Burhan, líder da junta que governa o país disse, ontem, estar confiante de que "superaremos esta provação com o nosso treino, sabedoria e força, preservando a segurança e a unidade do Estado, permitindo-nos fazer a transição segura para o Governo civil”. Numa mensagem em vídeo colocada nas redes sociais permitiu à população voltar a ver, ainda que em imagens, pela primeira vez Burhan, desde que a capital e outras áreas começaram a ser cenários de combates.
William Ruto teme o alastrar do problema
O Presidente do Quénia denunciou, na quinta-feira, um padrão sistemático de "atrocidades”, referindo-se à actual situação no Sudão. "O Quénia observa que o desrespeito às resoluções, juntamente com a evidência de falta de compromisso com o fim do conflito, indica fortemente que os ataques a instalações diplomáticas e pessoal, bem como os ataques a hospitais, hotéis e outros espaços públicos e sociais vitais, são deliberados, sistemáticos e equivalentes. às atrocidades contra a humanidade”. Existe um perigo real de que a escalada das hostilidades no Sudão possa envolver actores regionais e internacionais externos e degenerar numa crise humanitária e de segurança em escala desastrosa”, disse o Chefe de Estado queniano.
"É hora de silenciar as armas na nossa região e continente para que nos possamos concentrar no trabalho urgente de permitir que nosso povo busque oportunidades e realize as suas aspirações para a paz e tranquilidade. O tempo é essencial”, sublinhou.
Os confrontos armados entre o exército sudanês e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF) começaram no sábado em Cartum e outros pontos do país.
O mais recente balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS), os confrontos já provocaram pelo menos 330 mortos e 3.200 feridos. As hostilidades eclodiram no contexto de um aumento das tensões sobre a reforma do aparelho de segurança e a integração da força paramilitar nas Forças Armadas, parte fundamental de um acordo assinado em Dezembro para formar um novo Governo civil e reativar a transição.
O processo de conversações começou com mediação internacional após o chefe do Exército e presidente do Conselho Soberano de Transição, Abdel Fattah al-Burhan, liderar um golpe em Outubro de 2021, que derrubou Primeiro-Ministro de unidade, Abdalá Hamdok, nomeado para o cargo como resultado de contactos entre civis e militares após o motim de Abril de 2019, que pôs fim a 30 anos de poder de Omar al-Bashir.