“Até à União Soviética não existia uma Ucrânia”

 

O Presidente russo, Vladimir Putin, insistiu terça-feira que a Ucrânia nunca existiu “na história da humanidade” até à sua “criação” pela União Soviética (1922), uma das razões para justificar a intervenção militar no país vizinho.

"As autoridades soviéticas criaram a Ucrânia soviética. Isso é uma coisa conhecida. E até essa altura não existia uma Ucrânia na história da humanidade”, defendeu Putin, durante um encontro com o presidente do Tribunal Constitucional da Rússia, Valeri Zorkin.

Putin fez o comentário enquanto olhava para o mapa do Império Russo desenhado na França no século XVII, oferecido por Zorkin, que recebeu ontem um prémio no Kremlin.

De acordo com os ‘media’ russos, neste mapa vários territórios foram marcados como entidades independentes, como a Polónia ou a Lituânia, mas não a Ucrânia.

Durante a cerimónia realizada no Kremlin, Putin sublinhou que parte do povo russo foi separada do resto do Estado devido a uma "injustiça histórica”, aludindo à divisão da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) em 15 países independentes, em 1991.

"Mas eles nunca deixaram de ser o nosso povo”, explicou Putin, usando o mesmo argumento que tem repetido há vários anos.

O actual líder russo acredita que Kiev deveria agradecer ao fundador da URSS, Vladimir Lenine, por permitir a criação da República Socialista Soviética da Ucrânia.

A URSS nasceu em De-zembro de 1922 como um Estado federal, quando o ponto 26 do tratado contemplava o direito de cada República de sair livremente da união, deixando russos e ucranianos em pé de igualdade.

Esta opção foi aproveitada por várias Repúblicas para romper com o controlo do Kremlin, no final dos anos 80 do século passado, o que levou ao desaparecimento da URSS.

Putin não hesitou em acusar Lenine de ter colocado "uma bomba atómica sob o prédio chamado Rússia”, que "explodiu mais tarde”, ao reconhecer o direito à autodeterminação dos povos.

Recentemente, o Ministério da Educação russo anunciou o desenvolvimento de um novo manual de história para o último ano do ensino secundário com capítulos dedicados à ofensiva na Ucrânia.

A imprensa independente russa denunciou que referências positivas à Ucrânia desapareceram em várias descrições históricas, especialmente no que diz respeito ao primeiro reino eslavo medieval, com a capital na actual Kiev, e que tanto russos como ucranianos consideram ter sido o precursor primordial dos seus respectivos Estados.

A ofensiva militar lançada a 24 de Fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus –, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa – justificada pelo Presidente russo com a necessidade de "desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para a segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 8.895 civis mortos e 15.117 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.

Rússia nega ter iniciado a guerra

Vladimir Putin garantiu, ontem, que o seu país "não iniciou nenhum tipo de guerra” e afirmou que a "operação militar especial”, iniciada em Fevereiro do ano passado na Ucrânia, é de natureza defensiva.

"Muitas vezes nos dizem que a Rússia iniciou algum tipo de guerra. Não. A Rússia, com a ajuda de uma operação militar especial, está a tentar parar esta guerra que estão a travar contra nós”, defendeu o Presidente russo.

Putin argumentou que a Rússia está a ser vítima de uma guerra para permitir que o seu povo não fique excluído das "fronteiras históricas dos estados russos”.

"Isso é uma injustiça histórica (...)”, assegurou Putin, que nos últimos meses defendeu a invasão da Ucrânia como forma de recuperar parte de um território e população que, na sua perspectiva, pertencem historicamente à Rússia.

O Presidente russo reconheceu que a Rússia atravessa tempos "difíceis”, embora tenha incentivado os cidadãos a aproveitar o contexto para fortalecer o "sentimento nacional” e "as bases da espiritualidade” do país, para além de promover a prosperidade económica e educacional.

Fonte: Jornal de Angola

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