Educação pretende inserir em 2024 mais línguas maternas no ensino

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Educação pretende inserir em 2024 mais línguas maternas no ensino

Manuela Gomes

Jornalista

O Ministério da Educação (MED) pretende, a partir do próximo ano lectivo, ministrar a disciplina de línguas maternas no ensino primário. A informação foi prestada, esta segunda-feira, em Luanda, pela titular da pasta, Luísa Grilo.

28/03/2023  ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO 07H36
Participantes ao simpósio sobre língua materna abordaram vários aspectos ligados a sua inserção no processo de ensino e aprendizagem nas primeiras classes © Fotografia por: DR

Em declarações, por ocasião do simpósio sobre a língua materna, a ministra fez saber que, inicialmente, as aulas vão ser ministradas em todas as províncias, em pequenas amostras, pois serão necessários mais trabalhos de pesquisa para o funcionamento e expansão do processo.    

Luísa Grilo disse que, numa primeira fase, as províncias onde estudos já foram realizados serão as primeiras onde será implementado o processo. Sem precisar quais províncias, disse que o arranque do processo vai passar por uma discussão em Conselho de Ministros e depois com os professores, os principais actores do ensino.    

"Queremos que o ensino das línguas maternas tenha continuidade, que não seja apenas durante um ano”, disse a ministra. Acrescentou que o seu pelouro está a trabalhar para que as línguas possam ser ensinadas de modo sustentável. 

Durante o simpósio, que decorreu sob o lema "Várias línguas, uma nação: construamos o futuro”, foram apresentados oito livros, onde estão descritos aspectos que promovem a preservação das línguas de Angola. 

Os estudos, resultantes do Programa de Formação Especializada de Técnicos em Serviço, foram descritos por cidadãos nacionais, entre investigadores, professores, jornalistas e outros actores, com a chancela da editora Mayamba. Neles estão espelhados aspectos ligados à "História e localização geográfica do povo San e Ovatyipungu”, "Produção de consoantes do português por falantes Ikhun (Khoisan)”, "Aspectos da morfologia e da sintaxe do Olutyipungu”, e "Competência fonética e fonológica em alunos com Kimbundu”. 

"O português falado em Cabinda: implicações profissionais da TPA”, "Estudo da toponímia do município de Saurimo – princípios para harmonização da grafia”, "Antroponímia da língua Nganguela”, "O antropónimo da língua bantu”, assim como a "Proposta de base de dados ontoterminográfica multilingue do turismo” são, também, títulos dos estudos.    

Os estudos resultam, igualmente, de parte das dissertações de mestrado e de doutoramento no período de 2013/2022, nos domínios da Linguística Aplicada, Lexicologia, Lexicografia, Terminologia, Literatura, Jornalismo, História e Matemática.  

Na ocasião, a ministra da Educação disse que nos actuais manuais escolares estão representados os povos de Angola de forma mais abrangente e os antropónimos que lhes são característicos de forma mais evidente, além do exercício de harmonização da terminologia gramatical, entre outros aspectos.  

De acordo com ministra, no ano de 2010, a Constituição da República apresentou-nos, no seu artigo 19º, o leque das Línguas de Angola, que, "de acordo com a nossa interpretação são a língua khun, as línguas bantu e portuguesa, razão pela qual o nosso lema é "Várias línguas, uma nação: construamos o futuro”. 

Sublinhou que, a Comissão Multissectorial reconhece que o estudo e o desenvolvimento das Línguas de Angola não são uniformes. "Se por um lado temos línguas e variedades que são estudadas há séculos, por outro temos outras cujos estudos são iniciais”.  

Luísa Grilo disse ser do interesse do Ministério da Educação dar continuidade ao programa de publicação dos estudos realizados, em colaboração com os demais sectores da Comissão Multissectorial, para que a diversidade de estudos efectuados passe a ser de utilidade para a sociedade e contribua também para o processo de Revisão Curricular em curso, através do qual se prevê ensinar mais de uma Língua de Angola. "Consideramos que o bilinguismo em Angola permitirá o conhecimento mútuo, a preservação e o respeito pelas várias culturas, bem como reduzirá a sua hierarquização e promoverá o crescimento e o desenvolvimento das línguas, até hoje, menos veiculadas, para que possam constituir-se, também, em línguas de ciência, com vista à cultura da paz”.  

  Referiu que esta realidade está patente nos estudos, podendo-se citar, como exemplo, a terminologia do turismo apresentada numa base de dados multilíngue, que compreende as língua portuguesa, kimbundu, umbundu e duas línguas estrangeiras, nomeadamente a inglesa e a francesa. 

A ministra reconheceu que ainda há muito por se fazer, devendo-se prosseguir com os estudos, sendo bem vinda toda a colaboração, com vista à melhoria da qualidade da educação.


Defendida a actualização de informações 

A coordenadora da Comissão Nacional para o Instituto Internacional de Língua Portuguesa, Paula Henriques, deu a conhecer, ontem, em Luanda, que o Ministério da Educação coordena uma comissão que engloba vários sectores, que têm feitos vários estudos, visando a promoção das línguas nacionais. 

"Esses estudos são encomendados em função do programa e referem-se a várias línguas de Angola, desde a khum, do povo Khoisan, que foram os primeiros habitantes do país, e outras como umbundu, kikongo, nganguela e tchokwe”, referiu. 

Segundo Paula Henriques, os oito livros apresentados resultam dos estudos que revelam a dinâmica e o desenvolvimento das línguas e a necessidade de actualização. "Estes materiais de apoio apresentados hoje vão permitir que os professores possam ensinar com informações mais actualizadas sobre o funcionamento das línguas de Angola”. 

Explicou que os livros serão distribuídos em instituições que estão ligadas à formação de professores, para que, no acto de reflexão do ensino das línguas de Angola, possam ter informações mais actualizadas. 

De acordo com Paula Henriques, está em curso o processo de actualização curricular, que prevê a inserção de mais línguas nacionais no ensino primário.  

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