Pais pedem ajuda para intervenção cirúrgica


Bernardo da Gama Pinto, com apenas dois anos, padece de uma doença complexa do coração, denominada Atresia da Tricúspide, situação que muito preocupa os pais, por não terem recursos financeiros para custear o tratamento da criança.


Em entrevista ao Jornal de Angola, para pedir ajuda, a mãe do menino, Wilca da Gama, 26 anos, disse que se apercebeu que o filho sofre de Atresia da Tricúspide na última quarta-feira, depois de ter desmaiado e ser levado, às pressas, ao Hospital Pediátrico David Bernardino, em Luanda. 

Wilca da Gama explicou que, antes do desmaio, o filho apresentava problemas de falta de ar e tinha os batimentos cardíacos muito acelerados,  algo que nunca tinha acontecido.   

De acordo com a jovem mãe, depois de vários exames, o médico que os atendeu na Pediatria de Luanda disse que o menino nasceu com cardiopatia cógnita raríssima, cujo tratamento tem de ser cirúrgico.  

"O médico disse-nos que no país nunca foi feito este tipo de cirurgia por falta de especialistas e tecnologia médica de ponta. Por isso,  aconselhou a viagem  para o Brasil ou Portugal, com a máxima urgência, para que possa ser operado, porque não sabem até quando podem controlar a situação”, explicou. Segundo Wilca da Gama, ela não trabalha e o salário do esposo, polícia, não chega para custear a viagem e o tratamento do filho no exterior do país. 

Explicou que nunca notou nada de estranho, durante as consultas pré-natais e mesmo depois do nascimento do menino.

 "Ele comportava-se como um bebé normal”, disse, acrescentando que "nos últimos dias fui notando cansaço, sinais de insuficiência respiratória e batimentos cardíacos acelerados e a minha sogra aconselhou a ajuda médica”.  

Wilca da Gama disse que, apesar do conselho da sogra, não agiram logo, até ao dia em que o menino desmaiou e desde então tem sido acompanhado por médicos da Pediatria de Luanda, mas sem garantias de se fazer a cirurgia, daí o grito de socorro, com o objetivo de se encontrar a cura no país ou no exterior. 

 

Opinião do especialista  

O cardiologista Gade Miguel define a Atresia Tricúspide como uma cardiopatia congênita decorrente da agenesia da válvula tricúspide (ausência de comunicação entre o átrio direito e ventrículo direito). A incidência varia de 1 a 3% entre todas as cardiopatias. 

O diagnóstico da doença é feito através do ecocardiograma com Doppler colorido. O exame avalia a anatomia do coração e vasos, assim como a sua função.  

Gade Miguel disse que as crianças que nascem com esta falha têm  problemas da falta de oxigenação do sangue e  a re- solução desta cardiopatia congénita depende do canal arterial, que é uma abertura feita para permitir a boa oxigenação do sangue. 

Segundo o cardiologista, a gravidade desta doença depende da persistência do canal arterial. Quando este canal se fecha, as crianças não sobrevivem porque não existe outra forma de oxigenar o sangue. E como se sabe, prosseguiu o médico, o organismo precisa de oxigénio para sobreviver. 

De acordo com Gade Miguel, a patologia, apesar de ser complexa, é comum no país e pode ser tratada cirurgicamente, obedecendo três fases: a primeira é a cirurgia de Shunt de Blallock, que consiste em colocar um tubo para conectar a circulação pulmonar da circulação sistémica. Esta técnica permite fazer com que o sangue saía da circulação sistémica e vá para circulação pulmonar, onde é oxigenado e devolvido para o corpo. 

A segunda fase, que é a cirurgia de Glenn, consiste em retirar um dos vasos que trazem o sangue da parte superior do corpo para o coração, conectado directamente à artéria pulmonar. O médico realçou que este processo permite que o sangue desoxigenado que vem da parte superior da cabeça não chegue ao coração e vá directamente para a circulação pulmonar, onde é oxigenado e volta para o coração e depois devolvido ao resto do corpo. 

Estas duas cirurgias permitem que a criança cresça um pouco mais para poder aguentar um processo maior, que é a cirurgia de Foutan, que consiste em destacar a veia inferior que leva o sangue da parte inferior do corpo para o coração e, através de um tubo, levado directamente para a artéria pulmonar, onde se conecta à veia superior.  

As duas veias são conectadas directamente à veia pulmonar, evitando que passe ao coração, e no pulmão o sangue é oxigenado, voltando para o coração e enviado ao corpo todo. Depois disso, a criança vai crescendo até ter o tratamento final, que é o transplante de coração.

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