Muitas das obras na orla marítima, disse, foram feitas no calar da noite, o que deixa a acção de fiscalização sem o poder de agir atempadamente.
Os pescadores que exercem a actividade pesqueira ao longo da orla marítima, sobretudo nas zonas dos mangais em Luanda, aplaudiram as demolições de casas e empreendimentos pelo GPL.
José Aguiar, de 59 anos, pescador da zona das salinas, no Morro dos Veados, considera oportuna a decisão do governo provincial de Luanda, devido ao perigo da extinção do pescado. "Os fiscais e ambientalistas já haviam nos explicado sobre os riscos da destruição destas plantas. Por isso, é uma boa atitude do governo de Luanda. Desta forma poderemos continuar a pescar e ter como sustentar às famílias”, disse.
Pescador há 19 anos, lembra que nem sempre conseguem muitas quantidades de pescado. "É necessário ter em atenção à preservação do meio. Os recursos não podem ser extintos. Para quem vive da pesca, o amanhã é importante. Por isso, alerto aos companheiros de profissão para denunciarem os infractores que actuam nas zonas reservadas”.
Outro aspecto a lamentar, avançou, é o facto de muitos dos empreendimentos e casas, construídos ao longo da orla marítima serem de pessoas com conhecimentos sobre as reais consequências de tais infra-estruturas para o futuro das espécies marinhas.
Paulo António, outro pescador do bairro 32, nos Ramiros, apela à fiscalização e à penalização daqueles que frequentemente tentam, a todo custo, desrespeitar as medidas do governo. "Quem vive nesta área ou nos arredores não conhece os donos destas obras. Os pedreiros só nos dizem que a casa, a loja e as recauchutagens são do boss. Nunca dizem o nome do proprietário”. As comissões de moradores, destacou, devem sensibilizar mais os pescadores, zungueiras e vendedoras de peixe, assim como as donas das barracas da zona, para a prática da denúncia. Durante a ronda feita, a equipa do Jornal de Angola constatou o elevado número de construções ilegais, muitas delas sinalizadas com os prazos de demolição a vista, pelo Governo Provincial de Luanda. "Não é só por ser um lugar de ganha pão de muitos. Também quero ver os meus filhos e netos a viverem dos recursos marinhos”, revelou.
Armando Neto, outro pescador, disse ser muita irresponsabilidade da parte de quem pratica tais atitudes, pondo em causa um bem comum. "É um erro grave se vender espaços ao longo da orla marítima, pois no futuro pode custar muito caro”.
Uma das fundadoras do Projecto de Protecção de Mangais em Angola, Fernanda Renée explica que obtiveram já algum progresso na protecção dos mangais de Angola. O projecto, lembrou, começou quando alguns cidadãos do Lobito, Benguela, se sentiram preocupados ao ver o desaparecimento alarmante dos mangais e dos flamingos.
O Projecto Otchiva fez com que cidadãos tomassem iniciativas individuais para proteger os mangais. Em 2019, haviam feito, aproximadamente 20 actividades nas cidades do Soyo, Lobito e Luanda nas zonas do Benfica, Ramiros e na península do Mussulo.
Dados disponíveis, relatam que só no ano passado, em Luanda, o Projecto Otchiva e os parceiros sociais e voluntários conseguiram reflorestar aproximadamente 100 mil mangais.
Os mangais são ecossistemas naturais tropicais, compostos por espécies de plantas que toleram água salgada geralmente localizados em áreas costeiras. Além disso, também são considerados ecossistemas de carbono azul, bem como ervas marinhas e pântanos de sal, porque são dez vezes mais eficientes em absorver e armazenar grandes quantidades de carbono.
Mundialmente, realçou, os mangais têm sido destruídos devido à exploração madeireira e mineira, particularmente para desenvolvimento comercial. Em Angola, os mangais enfrentam uma destruição massiva, devido ao crescimento económico e comercial do país que raramente abrange a componente da conservação ambiental.
Os locais com mangais tornaram-se o destino final de obras em construção definitiva, entulhos e esgotos das cidades, assim como enfrentam também os riscos da poluição de resíduos sólidos e líquidos, provocados pelos derramamentos de petróleo e outros produtos químicos.