Maria Eugénia Neto: “Obra Poética” de Agostinho Neto preenche vazio literário

A Fundação António Agostinho Neto (FAAN) lançou, esta quarta-feira, em Luanda, uma colectânea de livros de poesia de Agostinho Neto, no âmbito do centenário do seu patrono.

A colectânea, que agrega os livros Sagrada Esperança, Renúncia Impossível e Amanhecer, já foi editada em Inglês, Francês, Mandarim, Espanhol, Hindi, Turco e Coreano e será apresentada, em breve, nas línguas Kikongo, Umbundo, Kimbundo e Cokwe.

A edição especial da "Obra Poética Completa” de Agostinho Neto, que surge para colmatar a falta dos livros no mercado nacional, será lançada, igualmente, nas demais províncias do país. Numa tarde de chuva torrencial, em Luanda, fizeram-se presentes bastantes convidados que testemunharam o acto.

Para a presidente da fundação, Maria Eugénia Neto, a obra poética de Agostinho Neto, conferiu cor à luta pela autodeterminação, que ajudou a combater o obscurantismo, facto que mobilizou um desejo crescente contra as amarras da colonização.

Maria Eugénia Neto referiu que, no período pós-independência, as poéticas daquele que foi o primeiro Presidente de Angola,incendiaram a mente de vários jovens que se revelaram potenciais escritores e marcaram de forma indelével o panorama literário nacional.

"Cada um sentia-se agigantado se pudesse ser visto com um livro na mão. E ter a Sagrada Esperança era um privilégio”, sublinhou.

Neste sentido, Maria Eugénia Neto reiterou que Neto e outros autores brilhantes do mosaico literário angolano merecem ser objecto de estudo e leitura obrigatória, como o que acontece nas estratégias de desenvolvimento de outros países, que valorizam os seus artistas e os seus autores.

Para o lançamento da edição especial da obra poética de Agostinho Neto, a Fundação Agostinho Neto convidou para a apresentação dos livros os escritores Conceição Neto, António Quino e Araújo dos Anjos, com a moderação do historiador e escritor Cornélio Caley. Os prelectores têm vários trabalhos de pesquisa em torno da vida e obra do primeiro Presidente de Angola.

Para o estudante Joel Afonso, a colectânea vem protagonizar, para a classe estudantil, mais material de investigação sobre a cultura e a poética angolana em particular, sendo o grande farol o primeiro presidente de Angola.

Durante a cerimónia de apresentação da obra completa, o poeta e presidente da Brigada Jovem de Literatura de Angola, Carlos Pedro soltou a veia poética e trovadoresca declamando poemas de Agostinho Neto, acompanhado do trovador Costa Maweze.

Carlos Pedro, que lançou no início do ano a obra "A Dimensão Anticolonialista da Poesia de Agostinho Neto”, um ensaio académico, sob chancela da editora Alupolo, é um apaixado pela obra do poeta e primeiro Presidente da República de Angola. "Enquanto jovens escritores, precisamos de beber da fonte primária para produzir bons livros e fiéis a trajectória histórica do poeta maior e Fundador da Nação  Angolana, Agostinho Neto”, frisou, acrescentando que, por isso mesmo, a Brigada Jovem de Literatura de Angola, em parceria com a Fundação Dr. António Agostinho Neto, tem estado a criar acervo bibliográfico a nível do país para constituir as "Bibliotecas Estudantis Geração que Lê” nas escolas públicas e privadas do Subsistema do Ensino Geral, e a "Obra Poética Completa” de Agostinho Neto chegará assim a mais leitores em todo o país.

Revista Memorial Especial Centenário

O momento foi ainda aproveitado para o lançamento da 3ª edição da Revista Memorial António Agostinho Neto (Revista MAAN), no âmbito da programação cultural do MAAN e das celebrações dos cem anos de Agostinho Neto.

A publicação da revista "Edição Especial Centenário” é dirigida a estudiosos, académicos e público em geral tendo como foco a divulgação de trabalhos de investigação científica, artística e literária e um reportório documental sobre Dr. António Agostinho Neto e a memória do percurso epopeico da história moderna do nacionalismo angolano.

Encontramos depoimentos de personalidades nacionais e estrangeiras que conviveram com Agostinho Neto e pesquisadores do nacionalista e homem das letras. O editorial é da autoria de Roberto de Almeida, numa edição onde se encontram artigos de António Quino, André Almeida Panzo, Bonifácio António, Carmen Tindó, David Capelenguela, Inocência Mata, Fátima Sampaio Fernandes, Hélder Simbad, João Maimona, José Luís Mendonça, Pires Laranjeira, Roberto de Almeida e Virgílio Coelho.

Prémio Nacional de Cultura e Artes, 2022

O ano passado, o júri do Prémio Nacional da Cultura e Arte atribuiu por unanimidade o galardão, na categoria de literatura, à António Agostinho Neto. No texto de justificação partilhado, menciona que” o poeta merece a distinção no ano da comemoração do seu centenário de nascimento pela transversalidade e valor multifacetado da sua obra e pensamento, pelo modo como se abre às problemáticas das culturas em Angola, das línguas nacionais, à filosofia africana, à questão da mulher e o seu entrelaçamento com as outras disciplinas artísticas, tais como a música, a dança, o cinema, o teatro e a literatura universal”.

Os textos do Fundador da Nação angolana, sublinha, produzem significação que os traduz como poéticas do múltiplo e escrituras expandidas nas séries da cultura. Trata-se de um Poeta que nos ajuda a consolidar a política que nos deve orientar na construção da unidade nacional, assente no respeito pela diversidade cultural dos diferentes povos que constituem Angola; além disso, estes textos permitem-nos construir nos domínios do ensino e aprendizagem e da investigação, problemas de ordem intelectual e prática ao serviço dos nossos mais profundos e elevados valores.

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