Elias dya Kimuezu pretende levar música angolana a vários palcos


Elias dya Kimuezu, 86 anos, pretende continuar a levar ao palco as canções que o consagraram como “Rei da Música Angolana”. O artista foi o convidado do conjunto “Dizu Dietu” na última edição do projecto “Domingo em Família”, realizado, no último domingo, no restaurante da Unidade Africana, no bairro Miramar.

Elias dya Kimuezu mostrou que é o amor pela música que o motiva a subir aos palcos, apesar das limitações impostas pela idade. Com o suporte do conjunto Dizu Dietu, o Rei Elias abriu o seu momento de actuação com "Nzala”, música com mais de 50 anos mas muito actual, ao abordar a fome que afecta muita gente e aqui eternizada pela voz sentida do artista.

Em "Mona Ndengue”, a emoção tomou conta do octogenário quando viu a pista invadida por dançarinos estrangeiros e, mesmo com a voz trémula, encantou os presentes. Foi efusivamente ovacionado em "Samba Madia” e foi o delírio quando o Rei ofereceu o clássico "Ressurreição”. Depois da actuação, em declarações ao Jornal de Angola, Elias dya Kimuezu disse que foi ao Miramar fazer o que mais gosta, que é cantar e levar alegria às pessoas.

O Rei da Música Angolana disse que ficou agradavelmente feliz com a diversidade da assistência, em que as idades e nacionalidades se transformaram num arco íris a iluminar o horizonte.

Teddy Nsingui, Rául Tollingas, Mias Galhetas, Lito Graça, Yark Spin, Bucho Martins, Benny e Legalize, integrantes do conjunto Dizu Dietu, afirmaram que acompanhar o Rei é sempre gratificante, nos ensaios o ambiente é de aprendizado.

Após a estrondosa apresentação de Elias dya Kimuezu, o conjunto tocou alguns temas com a interpretação de Legalize, que proporcionou no seu alinhamento o encontro real entre o Rei da Música Angolana e Bob Marley, o Rei do Reggae, ao som de "No woman no cry”.

O conjunto Dizu Dietu, como sempre, optou por uma selecção musical onde Teddy Nsingui prova que também está no canto e Lito Graça na interpretação de alguns temas.

Elias José Francisco, o Rei Elias dya Kimuezu, nasceu em Samba Kimongua, nos arredores do Sambizanga, Luanda, a 2 de Janeiro de 1936. Integrou como vocalista principal a "Turma do Margoso”, "Os Makezos”, "Kizombas”, "Ginásio” e "Dikindús”, assim como teve passagens pelos conjuntos musicais "Os Gingas” e "Kissanguela”.

Ao longo do percurso artístico do Rei Elias encontramos canções que marcam gerações de angolanos, como "Caminho de Ferro”, "Leonor”, "Mona Ndengue”, "Mwa Lunga”., "Katonhotonho”, "Muimbu Uami", "Mama Kudile Ngo”, "Kalunga Nguma”, "Agostinho Neto”, ” Lamento de Mãe”, "Lumby”, "Kwieku”, "Ungamba", "Muxima” , "Wa Zwata”, "Akalakadi”, "São Nicolau”, "Nzala”, "Kalumba”, "Samba Makia”, "Zé Salambinga” e "Kimongwa”. Todo este rico acervo musical interpretado na língua nacional Kimbundo, a imagem de marca do Rei Elias, que no cimo dos seus 86 anos nunca cantou em português.

O título de Rei da Música Angolana de Elias dya Kimuezu vem da década de 1960, quando o Centro de Informação e Turismo de Angola (CITA) o consagrou Rei da Música Folclórica Angolana. Depois da Independência Nacional, a União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC) e o Ministério da Cultura reconfirmaram o título de Rei da Música Angolana. A escritora Marta Santos lançou, em 2012, o livro ‘Elias dya Kimuezo - A voz e o percurso de um povo’.

O concerto de domingo, 14 de Maio, aconteceu no âmbito do projecto "Domingo em Família”, evento semanal que tem como suporte instrumental os conjuntos musicais "Os Kiezos” e "Dizu Dietu”, que têm a responsabilidade de acompanhar em palco os convidados da casa (Restaurante da Unidade Africana), cuja gestão faz questão de promover a música e os músicos angolanos.

Isidora Campos, Sabino Henda, Prado Paim, Voto Gonçalves, Gaby Moy, Morgan Heritage, Eduardo Paim, Joy Artur, Massano Júnior, Moreira Filho, Calabeto e Carlos Lamartine e na última sexta-feira o grande homenageado do Restaurante da Unidade Africana, neste mês dedicado a África, foi o grande Sam Mangwana, voz dolente da Rumba Congolesa, que integra desde Dezembro de 2021 a lista da UNESCO como Património Imaterial da Humanidade.

Amadeu Amorim na plateia

Entre a plateia e de modo discreto estava no espectáculo de domingo o nacionalista Amadeu Amorim, que encorajou os membros do Conjunto Dizu Dietu a continuarem na pesquisa da música angolana. Outro ponto que Amadeu Timóteo Malheiros Amorim "Tenda Dialoso”, também ele a caminho dos 86 anos, partilhou com o Jornal de Angola é a preocupação com as marcas e que a banda "Dizu Dietu”, que significa "A nossa voz” traduzido do Kimbundo para português, não perca a essência da música angolana de raiz, de que Elias dya Kimuezu é um dos expoentes máximos.

O ancião está atento à boa recepção do grupo e, por isso, deixou um alerta para o Conjunto Dizu Dietu e à organização do "Domingo em Família”, para que a componente comercial não ofusque o lado artístico e cultural. Aconselha que sejam escolhidos homens da arte para apresentação do projecto e de outras temáticas que ajudem a juntar as novas e velhas gerações à volta da mulembeira, para tornar perene as nossas tradições históricas e culturais.

Fonte: Jornal de Angola

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