Europa está sem África nas suas prioridades



O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou nesta quarta-feira que o continente africano não é uma prioridade para a Europa e lamentou que tal aconteça. Marcelo Rebelo de Sousa, que falava na cerimónia de encerramento do Eurafrican Forum, , considerou que a Europa está a envelhecer, enquanto a população africana está a crescer, “mas com pobreza e condições que aparentemente não são conhecidas, percebidas e compreendidas por muitos europeus“.

"Sejamos francos: claro que podemos falar através dos muitos milhões para África e até podemos dizer que a maior parte está de acordo com os objectivos estabelecidos até 2063 pela União Africana, mas África não é uma prioridade para a Europa", frisou, citado pela Lusa. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "uma parte da Europa não compreende África” porque "há países [europeus] que nunca tiveram a experiência de conhecer África como devia ser”. "Ou tiveram mas esqueceram-na”, vincou o Presidente português, referindo que os países da Europa Central e de Leste não têm a experiência de relacionamento que evocou e, no caso dos países do Norte da Europa, tiveram-na nas décadas de 1970, 1980 e 1990, "mas de uma maneira que não reconhecem que nalguns deles não é uma prioridade para parte das suas opiniões públicas”, acrescentou.

Enquanto os países do Sul da Europa "conhecem [África] melhor”, mas os tempos actuais marcam o "fim dos impérios”, considerou. À semelhança do que se passa em Portugal, disse, "permaneceu uma forma de olhar para África que é eurocêntrica, que não aceita que o ponto de vista africano não é o ponto de vista europeu”.

Além disso, a guerra na Ucrânia "tornou a Europa mais eurocêntrica, esquecendo o resto do mundo e que a guerra é global e envolve todas as superpotências e as potências emergentes”. Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se em seguida ao que designou como "problema de percepção” das opiniões públicas europeias, considerando que não se devem esquecer "os movimentos populistas [que se transformam] em movimentos orgânicos, nacionalistas e xenófobos estão a crescer em muitos países da Europa”, em que o efeito é a não aceitação da diferença cultural.

"É uma pena e pode transformar-se num erro enorme que [África] não seja uma prioridade”, acrescentou. Marcelo Rebelo de Sousa defendeu a necessidade não se perder esta oportunidade para apoiar África, considerando ser "fundamental” estar no continente "para criar condições para a educação, melhores condições de vida e de segurança nos investimentos”.

"Temos muito pouco tempo a partir de agora até ao fim da guerra e o pós-guerra para percebermos que não podemos desperdiçar esta ocasião única. Não devemos. A Europa não pode”, reiterou o chefe de Estado, notando que alguns países europeus começam a perceber quão importante é mudar as suas políticas, mas lamentou a lentidão com que o fazem e o tempo que essa mudança de atitude demora. Marcelo vincou ser necessária "uma vontade política mais forte a nível europeu”.

"Significa que os principais Estados europeus têm de concordar com isso. Estão de acordo quando se trata do seu investimento em algumas das suas empresas no Estado. Mas não sei se é suficiente. Queremos mais. Esta parceria tem de ser muito mais. É por isso que é tão importante este tipo de diálogo”, disse, referindo-se ao diálogo euro-africano.

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