Poucas agências e falta de dinheiro trazem enchentes ao centro da cidade


A escassez de agências bancárias nas zonas periféricas do centro da cidade de Luanda resulta na migração de muitos cidadãos até à baixa a procura dos serviços dos Terminais Automáticos - ATM, também conhecidos como “Multicaixas” ou mesmo de balcões com caixa disponível para atender demanda.

Cidadãos ouvidos, sexta-feira (7), em Luanda, disseram que permaneciam na fila com o objectivo de levantar din- heiro, pois nas zonas de proveniência não há ou se houver a enchente é maior.

Apesar de os bancos investirem forte em centrais de ATM, serviços que, por regra, dispõe de mais de três a quatro máquinas, o Jornal de Angola constatou enormes filas nas agências bancárias na Mu-tamba, Rua Rainha-Ginga, no Largo 1ª de Maio e as da zona defronte ao antigo Instituto Médio Industrial de Luanda (também conhecido como "ex-Makarenko”).

Insatisfeito com a enorme fila encontrada no Banco BIC, João Maurício Pacheco disse que por falta de agências no município de Icolo e Bengo, teve que se deslocar ao centro de Luanda para realizar movimentos através de ATM.

João Maurício tentou levantar dinheiro há três dias consecutivos, em Icolo Bengo, onde se encontra a controlar as obras da futura residência, já que ainda continua a viver no município de Viana.

Antes de encontrar o ATM do Banco BIC carregado, conta, passou em vários bancos, porém sem sucesso.

A Terra Nova e a Vila Alice são outros pontos visitados sem sucesso na tentativa de levantar dinheiro,

"Pelo menos, duas ou três vezes por semana devem abastecer os ATM, de forma a facilitar a vida dos cidadãos”, disse.

Outro cliente na fila era Imaca Caungula. Tinha à sua frente mais de 50 pessoas e quando chegou a sua vez o ATM ficou sem valores, contou o residente no município de Cacuaco, imediações da Centralidade do Sequele

Na zona onde vive, não consegue levantar dinheiro nos ATM porque se registou filas ainda maiores comparando com a que se econtrava no momento da abordagem.

Reconheceu que sua zona existe um número considerável de bancos, principalmente, dentro da Centralidade do Sequele, onde estão presentes agências do BFA, BAI, incluindo uma rede de ATM do Banco Sol. Sem saber que motivos levam a falta de carregamento dos ATM, Imaca Caungula disse que tem ouvido de alguns cidadãos e na via pública, algumas bocas que dizem que esta situação de falta de dinheiro já vem a partir de cima. Uns dizem que não há valores e alguns aconselham até mesmo as pessoas a tirarem o dinheiro nas contas, porque a situação vem de lá de cima e não, concretamente, nos bancos.

"O dinheiro é nosso. Guardamos nos bancos quando queremos e quando é para levantar é difícil, é uma luta. É complicado”, desabafou.

Por sua vez, Josefa Onda, também residente no município de Cacuaco, se encontrava na fila de um banco BCI, já que na zona onde reside há escassez de bancos e as poucas agências ali instaladas, se não estão cheias, não possuem dinheiro carregado nos multicaixas.

Josefa Onda disse que procura por dinheiro nos ATM há uma semana, movimento que voltou a tentar fazer ontem, porém mal sucedida também.

"Para chegar até aqui, agência do BCI Cine Atlântico, passei pelo banco BFA do São Paulo, que estava com uma grande fila. E, como não podia aguardar, chegue até ao BCI do Cine Atlântico, onde encontrei pouca gente”, admitiu.

Conforme disse, dali não mais sairia e permaneceria na fila até conseguir. Contudo, se até a sua vez o dinheiro acabar, tentará mais uma vez em outras agências, porque precisa mesmo de ter dinheiro em mão para atender outros assuntos familiares.

" Estamos a ouvir rumores de alguns cidadãos que há falta de Kwanzas no mercado. Se tem ou não, nós não sabemos e até agora ninguém se pronuncia”, afirmou.

A verdade, segundo Josefa Onda, é que está muito difícil levantar dinheiro nos multicaixas, pelo que pede a quem de direito que venha explicar o que se passa.

Já Henriques Rufino, outro morador de Cacuaco, detalhou os mesmos constrangimentos à semelahança dos outros anteriores, nas respectivas zonas de residência. Na zona de Kifangondo, Henriques Rufino disse existir poucas agências bancárias. Arriscou citar haver duas ou três e não mais do que isso, as quais no dia-a-dia têm registado excesso de lotação de pessoas seja nos ATM assim como nos serviços internos.

Dinheiro "voa”

De acordo com o morador do bairro Kifangondo a sua zona que abrange a Kilunda, imediações da Igreja Católica, há lá dois ATM colocados por uma empresa privada de produção de água de mesa. Quando há salários, conta, em fracção de segundos já não há dinheiro, por serem as únicos ATM na área. Literalmente, o dinheiro "voa”.

"Esta situação não é normal. E isso acontece sempre quando chega a primeira semana de cada mês, isto nos dias dois e três quando o salário dos funcionários cai. É nesta altura em que há também registo de falta de sistema, falha de rede sempre que alguém pretenda levantar dinheiro”, manifestou.

Relatos similares foram colhidos da anciã Lucinda Gando e do jovem Dilson Lino, os quais também pedem aos bancos que olhem para esse cenário de longas filas que representam perda de tempo para se ter em mão algum dinheiro para as compras do mês.

Reacção dos bancos

O Jornal de Angola ainda tentou ouvir o BNA, sobre uma eventual escassez de moeda, mas sem ter sido possível gravar declarações, uma fonte do banco central disse estar tudo normal do lado do banco central. Assegurou existir moeda em circulação suficiente para atender as transacções da economia.

Os gerentes de bancos não quiseram dar declarações, justificando ausência de orientações das respectivas direcções, mas também asseguraram que têm colocado dinheiro em função da disponibilidade das agências todos os dias. Para eles, as filas são sinais de existência de dinheiro e não o contrário. Logo, está tudo no normal.

EMIS garante segurança e funcionamento dos aparelhos

O fluxo de cidadãos, que se regista a nível dos ATM de Luanda, não é da responsabilidade da Empresa Interbancária de Serviços, S.A (EMIS).

Segundo avançou o representante da EMIS, Joaquim Caniço, a instituição tem como papel fundamental o garante do funcionamentos e segurança dos aparelhos.

Em declarações ao Jornal de Angola, Joaquim Caniço esclareceu que quando se trata de questões sobre a falta de dinheiro e papel ou se um dos ATM no meio de outros não estiver a funcionar, o cidadão deve informar-se ao banco onde estiver.

"O funcionamento e a segurança das operações dos ATM é da nossa responsabilidade, mas os restantes acontecimentos não”, reforçou.

Disse, contudo, que um dos motivos, que talvez pode influenciar as anchentes, seja a questão do pagamento salarial.

Serviços da Western Union

Um dos motivos que também faz com que os cidadãos residentes nas zonas periféricas, é a prestação de outros serviços se desloquem ao centro da cidade como a Western Union.

Neste quesito, o cidadão Dilson Lino que se encontrava na fila do Banco BCI com a sua mãe, foi à procura dos serviços da "Western Union" porque mensalmente um dos seus familiares residentes no exterior do país tem enviado dinheiro.

Residente em Viana, Dilson Lino disse que o serviço da "Western Union" não se encontra na zona onde vive e muito menos nas áreas adjacentes por haver falta de Agências Bancárias que prestem tal serviço.

Dilson Lino tem feito esta rotina uma vez por mês, e para conseguir levantar dirige-se no centro da cidade com a sua mãe. "Parece que o único Banco que oferece este serviço é o BCI, e em Viana não temos", sublinhou destacando que, os bancos mais próximos estão localizados no bairro Papa Simão onde tem o BIC e outros ficam na Cidade do Kalawenda, mas são poucos para atender a demanda do número de população que lá reside.

"Os ATMs funcionam a cem por cento, o problema mesmo é falta de carregamento e poucos bancos", reconheceu Lino na companhia da sua progenitora.

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