A importância de mostrar aspectos da cultura angolana e aprofundar a troca de experiências entre os grupos participantes, são os objectivos das companhias de teatro Pitabel e Kalunga Teatro, na 19ª edição do Festival Internacional de Teatro de Inverno em Moçambique (FITI), que decorre de 27 deste mês a 4 de Junho, em Maputo.
Em declarações ontem ao Jornal de Angola, o encenador Adérito Rodrigues "Bi” realçou que durante a estadia em Maputo, a caravana, integrada por seis elementos, entre actores e membros da direcção, vai dar a conhecer a nova realidade e dinâmica que têm sido empreendidas no domínio das artes cénicas no país.
Com viagem marcada para o dia 30 deste e regresso a 4 de Junho, o Pitabel, disse o encenador , vai endereçar, também, um convite à Associação Cultural Girassol de Moçambique, organizadora do festival, para participar, este ano, na 8ª edição do Circuito Internacional de Teatro (CIT), que vai decorrer de 30 de Julho a 10 de Setembro, no Elinga Teatro.
Durante a estadia, explicou, está prevista a realização de um encontro entre as direcções promotoras dos festivais para acertar os detalhes de um memorando de parcerias que deve ser formalizado no mês de Setembro, em Luanda.
As partes vão assinar um protocolo de cooperação para assegurar a realização de actividades e iniciativas destinadas à identificação, estudo, conservação, valorização e divulgação de trabalhos produzidos pelos respectivos festivais, por forma a criar um acervo sobre as artes cénicas e promover a cultura dos povos. O memorando vai ser assinado pelos directores-gerais do CIT (Angola), Adérito Rodrigues, e pela Associação Cultural Girassol (Moçambique), Joaquim Matavel.
O documento assenta nas áreas de produção de espectáculos de teatro, oficinas, realizar acções de troca de experiências, programas de superação, promoção de actividades e intercâmbio, envolvendo outros agentes culturais e mecenas, com o objectivo de promover actividades culturais e artísticas entre os dois países.
Adérito Rodrigues "Bi” espera que este acordo possa ser o consolidar das boas relações existentes entre as instituições e que possa gerar os resultados almejados. Com a assinatura do protocolo, garantiu, vai ser possível definir as bases da cooperação entre as duas instituições, na implementação de programas, projectos e acções.
O encenador e director artístico do Pitabel disse que vão aproveitar o momento para participar em seminários e oficinas artísticas, onde devem ser abordados temas como criação artística e a produção da oitava edição do CIT. "Vamos aproveitar para formalizar alguns convites também aos grupos de outros países para participarem no CIT”.
Durante os debates a serem realizados no festival, explicou, o grupo vai propor temas como "A Produção Teatral”, "Direitos de Autor”, "A Dança Contemporânea e o Teatro”, "Arte Performativa Africana”, "Teatro de Hoje e sua Especificidade”, "A Música e o Teatro”, "Importância da Formação para as Artes em Geral e em Particular para o Teatro” e "As Artes Plásticas e o Teatro”.
Montagem dos espectáculos
O encenador explicou que nesta fase os integrantes do grupo estão a aprimorar os aspectos físicos, para melhorar o desempenho dos actores. Os ensaios são realizados das 11h00 às 13h00, de segunda a sexta-feira. Nesta fase, disse, estão a aprimorar as marcações e posicionamentos em palco. A sonoplastia, também, é um dos aspectos a levar em consideração. "Os ensaios estão inseridos na montagem do espectáculo, o som, interpretação dos textos, a marcação das acções com os textos e a iluminação. Já estamos a fazer os ensaios gerais com os adereços cénicos”, explicou.
A Companhia de Teatro Pitabel representa o país com a peça "A Fronteira do Asfalto”, uma adaptação de um dos contos do livro "A Cidade e a Infância”, de Luandino Vieira. A peça narra a história de um menino negro e de uma menina branca proibidos de se relacionarem pela família dela, bem como pela "fronteira de asfalto” que divide a cidade. Os dois, depois de adultos, continuam impedidos de se relacionarem pelas famílias por preconceitos sociais e raciais.
Fundado em 4 de Agosto de 2001, a Companhia de Artes Pitabel venceu, em 2006, o Prémio de Teatro Cidade de Luanda e conquistou três vezes consecutivas o troféu de melhor texto de teatro no Prémio Cidade de Luanda, em 2006, 2008 e 2009. O grupo venceu o prémio DSTV-BWE na edição 2006 e apresentou em 2009 o melhor espectáculo de Luanda no Festival Internacional de Teatro do Cazenga.
Na sua longa carreira, a Companhia de Teatro Pitabel recebeu várias distinções, com destaque para o Prémio Nacional de Cultura e Artes, em 2010. Constituída por 15 actores, a companhia encenou, entre outras, as peças "De Quem é a Culpa” e "Missosso”, adaptada do livro homónimo de Óscar Ribas.
"A Estética do Espectáculo de Teatro”
O Kalunga Teatro, outro representante angolano no festival, tem como proposta a peça "Vida, Incómodo ou Lixo”. A peça propõe uma reflexão sobre vários problemas que têm afectado a sociedade angolana e não só. De acordo com o encenador Victor Suama, a peça retrata a história de vida de alguém que, por ironia do destino, foi tratada como "incómodo” e, consequentemente, reduzida a "lixo”. Mergulhada numa situação bastante intrigante, embarca numa dura missão de abrangência mundial para contrariar os desejos egoistas que supostamente assumem controlar a continuidade da espécie humana na Terra.
De acordo com o responsável, neste momento, apenas um dos três elementos da caravana ainda não tem o bilhete de passagem. Está convicto de que até sexta-feira poderá ser resolvido o problema. Pela primeira vez a participar no FITI, a par da exibição cénica, disse, o grupo vai participar, igualmente, em vários seminários, tal como a organização programou. "Pretendemos fazer uma análise daquilo que vai ser a exibição dos grupos durante a nossa estadia na capital moçambicana”.
O grupo, explicou, vai propor como tema de debate "A Estética do Espectáculo de Teatro”. Como encenador e director artístico, está preocupado por existir uma "despreocupação dos grupos que não observam determinados elementos fundamentais para compilar o próprio espectáculo de teatro.”
Esses elementos, disse, têm a ver com os adereços, figurinos, iluminação, o sentido harmónico que deve existir durante e no final de cada espectáculo. Segundo o encenador do grupo Kalunga Teatro, deve existir uma certa relação de cumplicidade entre os elementos que compõem um espectáculo, desde os figurinos, adereços com o histórico da peça e a combinação entre a iluminação com as acções dos actores no desenrolar do espectáculo.
O Kalunga Teatro, fundado aos 20 de Setembro de 1999, na cidade de Luanda, tem como objectivo estudar a formação cultural do país e suas repercussões sócio-culturais, com um repertório e técnicas próprias de uma concepção antropológica, bem como colocar à disposição do público os resultados das suas pesquisas para fins educativos, formativos e informativos (em espectáculo convencional e ou comunitário).
Fonte: Jornal de Angola
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