Líder da Junta Militar confiante na estabilidade do Sudão


"Toda a guerra termina à mesa de negociações, mesmo que o adversário seja derrotado”, disse Al-Burhan, numa entrevista à estação britânica de televisão britânica Sky News.

"Mesmo que haja uma rendição, ainda pode haver uma negociação”, referiu na entrevista, mesmo depois de ter declarado como um "grupo rebelde” as RSF, comandadas por Mohamed Hamdan Dagalo, que antes de lançar a rebelião numa tentativa de tomar o poder no Sudão era o número dois do Conselho Soberano Sudanês, o mais alto órgão executivo do país, presidido pelo próprio Al-Burhan e que já causou cerca de 200 mortes e mais de 3 mil feridos.

O chefe do exército sudanês adiantou que permanece no complexo presidencial em Cartum - uma área "completamente segura” na sua opinião - e denunciou que são as RSF que estão a aumentar os combates em áreas comerciais e residenciais da capital, que continua praticamente bloqueada. O exército está a "conter”, para evitar "muitas vítimas civis em áreas residenciais”, disse o líder militar, depois de terem sido confirmadas quase uma centena de mortes entre a população. O líder das RSF, Mohamed Hamdan Dagalo, tinha apelado a uma "intervenção” da comunidade internacional contra os "crimes” do chefe do exército sudanês, a quem descreveu como "um islamista radical” responsável por "uma campanha brutal” contra "inocentes”.

A Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), a União Africana e as Nações Unidas emitiram uma declaração conjunta hoje instando as partes a uma "pausa humanitária”, depois de uma trégua anunciada no domingo não ter sido cumprida "na sua totalidade”. Após a revolta de 2021, em que se uniram no golpe de Estado que derrubou o antigo Presidente islamista Omar al-Bashir, após três décadas no poder, os dois líderes comprometeram-se a não envolver os militares nos assuntos políticos do Sudão e a iniciar um processo para devolver o país a um caminho democrático e formar um Governo civil. No entanto, as diferenças entre os dois militares intensificaram-se há algumas semanas, no meio de negociações para chegarem a um acordo final com grupos civis, e no sábado o exército atacou posições das RFS, numa aparente resposta a um ataque anterior.

O subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da Organização das Nações Unidas (ONU), Martin Griffiths, lamentou na segunda-feira o "revés devastador” que os recentes combates no Sudão representam para o povo do país e pediu o fim do conflito. Em comunicado, Griffiths disse estar profundamente preocupado com o número crescente de mortos e feridos, "que só aumentarão à medida que os combates continuarem nas áreas urbanas”, e admitiu estar "horrorizado” com a morte de trabalhadores humanitários, incluindo três funcionários do Programa Alimentar Mundial (PAM).

Com foco nas questões humanitárias, Griffiths sublinhou que mesmo antes deste episódio de violência entre o exército sudanês e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF), as necessidades humanitárias já eram elevadas no país, com um terço da população - 16 milhões de pessoas -precisar de ajuda humanitária. "Relatos de que hospitais e infraestruturas de água e eletricidade foram atacados são extremamente alarmantes. Os confrontos estão a impedir que as pessoas - especialmente nas cidades - tenham acesso a alimentos, água, educação, combustível e outros serviços essenciais. Os serviços de saúde, já precários, podem ser ainda mais levados ao limite”, diz o comunicado.

O presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sissi, disse ontem que o seu governo está a comunicar com ambos os lados em conflito no Sudão, num esforço para interromper os combates e iniciar negociações destinadas a restaurar a estabilidade no país vizinho.

Falando ontem numa reunião com o Conselho Supremo das Forças Armadas do Egipto, o presidente acrescentou que ele e o seu homólogo do Sudão do Sul estavam prontos para "desempenhar um papel de mediação”.

  Novos corredores humanitários

Já ontem, o exército sudanês anunciou que aceita uma nova proposta da ONU para abrir corredores humanitários por um período de três horas, uma iniciativa que foi adoptada pela primeira vez no domingo, mas apenas parcialmente respeitada. "Após consultas, as Forças Armadas do Sudão aceitaram a proposta da ONU de abrir corredores seguros para casos humanitários por um período de três horas. Os militares acrescentaram que respeitarão esta breve cessação dos combates em zonas residenciais e centros urbanos enquanto o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) não continuar a atacar. As RSF não divulgaram se irão ou não aderir a esta pausa nos combates.

Este é o segundo dia em que foi anunciada a abertura de corredores humanitários, depois de no domingo - segundo dia de combate - ambos os lados se terem comprometido a fazê-lo a pedido das Nações Unidas. Na segunda-feira, o enviado especial da ONU para o Sudão, Volker Perthes, confessou-se "extremamente desapontado” com o não cumprimento das tréguas de domingo, que disse "terem sido apenas parcialmente cumpridas”, apesar do empenho de ambas as partes. Esta breve pausa permitiu a retirada de mais de mil pessoas na capital, confirmaram à EFE fontes do Crescente Vermelho Sudanês, que citaram o caso de uma escola no centro de Cartum, da qual cerca de 450 crianças, que tinham ficado retidas desde o início dos combates de sábado, puderam sair.

Na segunda-feira, o embaixador da União Europeia (UE) no Sudão foi atacado na sua residência, segundo revelou o chefe diplomático europeu Josep Borrell. Considerando ter havido "uma violação flagrante” da Convenção de Viena, Borrell observou que as autoridades sudanesas tinham a responsabilidade de garantir a segurança das instalações diplomáticas e dos diplomatas no país.

Apesar do incidente com o embaixador da UE, o irlandês Aidan O'Hara, a porta-voz dos serviços diplomáticos da UE, Nabila Massrali, garantiu que a delegação da UE não tinha sido evacuada e reiterou que a segurança do pessoal da delegação "é a prioridade”.

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