Síria nega cooperar no controlo do uso de armas químicas

 

A alta representante da ONU para Assuntos de Desarmamento acusou, ontem, o Governo sírio de continuar a recusar uma cooperação com a Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) e exortou o Conselho de Segurança a agir.

Numa reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre armas químicas da Síria, Izumi Nakamitsu indicou que a OPAQ tem dado continuidade aos esforços para esclarecer todas as 20 questões pendentes relacionadas à destruição de armas químicas da Síria, mas "sem sucesso”.

"Infelizmente, todos os esforços da Secretaria Técnica da OPAQ para organizar a próxima ronda de consultas com a Autoridade Nacional Síria continuam sem sucesso”, disse a alta representante da ONU, apontando que o Governo de Bashar al-Assad não forneceu nenhum dos documentos solicitados.

Entre os documentos não entregues estão a declaração completa de actividades no Centro de Estudos e Investigações Científicas do país e a declaração de quantidades de substâncias químicas produzidas numa instalação de produção de armas químicas que Damasco diz "nunca ter sido usada” para produzir esse tipo de armamento.

"A total cooperação da República Árabe da Síria com a Secretaria Técnica da OPAQ é essencial para encerrar todas as questões pendentes. Considerando as lacunas identificadas, inconsistências e discrepâncias que permanecem sem solução, neste momento a Secretaria avalia que a declaração apresentada pela Síria ainda não pode ser considerada precisa e completa, de acordo com a Convenção de Armas Químicas”, avaliou Izumi Nakamitsu.

A alta representante da ONU para Assuntos de Desarmamento recordou que decorrerá na próxima semana a quinta Conferência de Revisão da Convenção de Armas Químicas, considerando ser uma importante oportunidade para os Estados-membros "renovarem e fortalecerem” os seus compromissos contra o uso de armas químicas.

Nesse sentido, Nakamitsu exortou o Conselho de Segurança da ONU a "fazer todos os esforços para garantir a resiliência contínua do tabu contra tais armas horríveis”.

"É minha sincera esperança que os membros deste Conselho se unam nesta questão e mostrem liderança- não apenas neste Conselho, mas também na próxima Conferência de Revisão - em defender os ganhos duramente conquistados da Convenção de Armas Químicas e demonstrar que a impunidade do uso de armas químicas não será tolerada”, afirmou Nakamitsu perante o corpo diplomático. "Os responsáveis por tais ataques devem ser identificados e responsabilizados, pelo bem das vítimas e como um impedimento para futuras guerras químicas”, frisou.

Por outro lado, o vice-embaixador da Rússia junto da ONU, Dmitry Polyanskiy, criticou a realização desta reunião do Conselho de Segurança, afirmando que foi convocada apenas para "permitir que uma série de delegações ocidentais repitam declarações anti-sírias banais, claramente destinadas ao consumo doméstico”.

Governo sírio

Classificando a Secretaria Técnica da OPAQ de "tendenciosa” e de "instrumento obediente nas mãos do Ocidente”, Polyanskiy argumentou que é a própria organização a "adiar novas consultas” com Damasco e acusou o director-geral da OPAQ, Fernando Arias González, de " simplesmente não querer cumprir os seus deveres”, ao recusar-se a visitar o país.

O embaixador norte-americano Robert Wood saiu em defesa da OPAQ e acusou a Rússia de criar um "escudo descarado ao comportamento desafiador da Síria”, que deixa o "povo sírio diante da perspectiva de novos ataques com armas químicas”.

"Em vez de exigir a implementação total da resolução que determinou a eliminação de armas químicas sírias, que a Rússia originalmente apoiou, Moscovo optou por atacar a credibilidade e o profissionalismo da OPAQ, minando a Carta da ONU no processo”, criticou Wood.

No final de Janeiro, a OPAQ acusou Damasco de realizar um ataque com cloro no qual 43 pessoas morreram na Síria, em 2018.

De acordo com a organização, pelo menos um helicóptero da Força Aérea Síria lançou dois barris de gás venenoso na cidade de Douma, que era considerado como o último bastião rebelde nos arredores de Damasco, durante a guerra civil.

O Governo sírio nega o uso de armas químicas e afirma ter entregado os seus arsenais como parte de um acordo de 2013, concluído após um alegado ataque com gás sarin que matou 1.400 pessoas em Ghouta, um subúrbio de Damasco.

Damasco argumenta que o ataque em Douma foi encenado por equipas de resgate, acusação negada pela OPAQ. Desencadeado em Março de 2011 pela violenta repressão do Governo, de manifestações pacíficas, o conflito na Síria ganhou ao longo dos anos uma enorme complexidade, com o envolvimento de países estrangeiros e de grupos ‘jihadistas’, e várias frentes de combate.

Num território bastante fragmentado, o conflito civil na Síria provocou, desde 2011, mais de 490 mil mortos e milhões de deslocados e refugiados.

Fonte: Jornal de Angola

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