O Primeiro-Ministro português, António Costa, vai realizar uma visita oficial a Angola nos dias 5 e 6 de Junho, tendo previstos encontros com o Presidente da República, João Lourenço, empresários e com a comunidade portuguesa.
Segundo uma nota divulgada ontem pelo gabinete de António Costa, a visita decorre a convite de João Lourenço e "tem como objectivo o reforço das relações bilaterais entre Portugal e Angola a nível político, económico e cultural” . A "valorização de áreas como a engenharia e construção, o agroalimentar, a energia e o turismo” estarão em destaque durante os dois dias da estada de António Costa em Angola.
A última visita oficial do chefe do Governo português a Angola realizou-se em Setembro de 2018.
Após a visita a Angola, António Costa parte para a África do Sul, onde participa, no dia 7 de Junho, no programa das comemorações do Dia de Portugal junto da comunidade portuguesa ali residente, juntamente com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Iniciativa "tripartida” busca aproximação dos empresários
A Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), o Banco Caixa Geral Angola e a Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações de Angola (AIPEX) realizaram, ontem, no Hotel Sheraton Porto, em Portugal, o Fórum Económico Portugal - Angola 2023 sob o tema "Construímos relações sólidas”.
Esta iniciativa conjunta representou uma excelente oportunidade para os participantes estabelecerem contactos com representantes institucionais e empresariais de ambos os países e ficar a conhecer, em primeira mão, os planos de privatização angolanos e as oportunidades sectoriais que o mercado tem para oferecer.
Angola é, actualmente, o 9º principal cliente de Portugal, lugar que mantém desde 2019. Constitui-se como o 3º mercado de exportações extracomunitário mais importante, apenas atrás dos EUA e do Reino Unido, e é, igualmente, o parceiro comercial mais relevante nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
Ao longo dos últimos anos, têm-se verificado uma tendência de crescimento significativa, com os valores dos fluxos de comércio bilateral a ultrapassarem os níveis pré-pandemia.
Existem mais de 4.000 operadores económicos portugueses a exportar para Angola e a presença empresarial nacional neste país faz-se notar em quase todos os quadrantes da economia angolana.
"Estima-se que mais de 1.200 empresas de capital português ou misto possuam actividade em Angola, em domínios tão diversos e importantes como a construção civil e infra-estruturas, o agro-alimentar e agro-industrial, a banca, os seguros, a metalomecânica, as tecnologias de informação e comunicação, a energia, a saúde, e o transporte e logística”, avançam.
A economia angolana, a sair de uma recessão de quase cinco anos e de uma crise pandémica que teve, igualmente, consequências muito negativas, está em fase de recuperação, impulsionada pelo aumento do preço dos hidrocarbonetos e pela implementação das medidas acordadas com o Fundo Monetário Internacional, que estima, para 2023, um crescimento do PIB do país na ordem dos 2,6 por cento. Igualmente, as autoridades angolanas iniciaram uma política de diversificação económica, com o intuito de tornar a economia mais resiliente e menos dependente do sector petrolífero, fomentando assim a produção local que permita suprir as necessidades do país e desenvolver as exportações angolanas.
Para o efeito, têm sido implementados programas governamentais e regulamentos que visam facilitar a angariação de investimento estrangeiro, podendo aqui existir oportunidades de negócio para as empresas portuguesas.
Este evento acontece em contexto de antecâmara da visita oficial do Primeiro-Ministro português, António Costa, a Angola, prevista para 5 e 6 de Junho, com o intuito de identificar novas oportunidades de negócio e investimento, bem como fomentar a participação de novos operadores económicos no esforço de diversificação económica de Angola.
Ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho
Relações económicas entre Portugal e Angola estão "longe de cumprir o potencial”
O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, afirmou, ontem, que, apesar de "intensas”, as relações económicas entre Portugal e Angola estão "ainda longe de cumprir o potencial” e que os dois países devem "trilhar” esse caminho juntos.
"Temos relações económicas que são intensas, apesar de estarem ainda longe de cumprir o seu potencial. Quando falamos de relações sólidas, referimo-nos a relações permanentes, bem ancoradas em sentimentos de proximidade e a consciência de já termos vivido muito juntos. Conhecemo-nos, mas tal como acontece em todos os bons casamentos, devemos estar sempre atentos e disponíveis para aprender e aprofundar. É esse o caminho que devemos trilhar juntos”, afirmou João Gomes Cravinho, na sessão de encerramento do Fórum Económico Portugal-Angola, que decorreu ontem no Porto.
À margem do fórum, o ministro afirmou aos jornalistas que as relações entre os dois países "são muito sólidas”, mas que "falta cumprir o imenso potencial”, lembrando que a economia angolana está, neste momento, "em transformação”, assim como a portuguesa, sobretudo ao nível das exportações.
"Com a economia angolana em transformação este é um momento extremamente oportuno para se fazer o ponto de situação, perceber o que se está a mudar e quais as novas oportunidades”, referiu.
João Gomes Cravinho destacou que o fórum realizado no Porto permitiu aos empresários portugueses compreenderem as "perspectivas” que existem nos próximos anos em Angola, assim como a "abertura de oportunidades em novos sectores”.
"Creio que [essa abertura] torna Angola um caso muito interessante para a atenção das empresas portuguesas”, referiu, destacando sectores como a agricultura, as energias renováveis, farmacêutica, têxtil e calçado.
"Há uma panóplia de áreas, algumas já muito conhecidas, mas outras por explorar”, notou João Gomes Cravinho, que em Junho vai acompanhar o Primeiro-Ministro, António Costa, na visita a Angola para assinar o novo pacote de cooperação estratégica.
Antes da intervenção do ministro, foram abordados os instrumentos financeiros de apoio ao investimento, num debate que contou com a presença do secretário de Estado do Tesouro e Finanças de Angola, Ottoniel Santos, da presidente do Banco Português de Fomento, Celeste Hagaton, da directora do Departamento de Cooperação e Relações Internacionais (GPEARI-MF), Ana Barreto, e do administrador executivo do Banco Caixa Geral Angola (BCGA), Francisco Oliveira.
Segundo o secretário de Estado do Tesouro e Finanças, o Governo angolano está neste momento a "priorizar” os projectos a realizar no âmbito da linha de crédito garantida pelo Estado português, sendo que o objectivo do Executivo é "flexibilizar os requisitos no acesso à linha”.
"Estamos a entrar no processo de normalização, trabalhando de forma alinhada para que estes projectos possam começar a conhecer as devidas desmobilizações”, referiu, notando que desde a assinatura do acordo já foram aprovados projectos no valor de 500 milhões de dólares (cerca de 461 milhões de euros).
Ministro da Economia e Planeamento, Mário Caetano
Alteração do paradigma de fazer economia
Ao fazer um resumo daquilo que foi apresentado no Fórum Empresarial Portugal-Angola, o ministro da Economia e Planeamento, Mário Caetano, referiu que Angola, na sua mensagem assente em três dimensões, deu a conhecer na primeira a necessidade de alteração do paradigma de fazer economia no país, deixando de ser fortemente orientado pelas importações e começar a transformar a riqueza potencial em real. Para o efeito, acrescentou, a alteração do paradigma era necessária para se colmatar os desequilíbrios macroeconómicos que o país vivia .
Mário Caetano frisou que foi também apresentado, como segunda dimensão, o desempenho económico do país, dando nota daquilo que têm sido os determinantes de crescimento económico, onde o sector do Agronegócio tem desempenhado um papel fundamental.
A terceira dimensão, como referiu, teve a ver com as perspectivas económicas do país, principalmente, como enquadrar todo esforço do país naquilo que tem sido também o desempenho da economia mundial, porque, defende, "o país não está pendurado no vazio”, mas que faz parte de uma conjuntura económica internacional, onde "temos de nos aperceber das forças que existem na economia internacional e que a sua dimensão também tem algum impacto sobre a nossa economia”, frisou.
Com tudo, o ministro Mário Caetano disse que foram ainda apresentadas as grandes bases para a estatística de longo prazo, 2050 para Angola, e os pilares do Programa de Desenvolvimento Nacional, em perspectiva, incluindo os filtros de impacto. "Nós queremos que este Plano de Desenvolvimento Nacional seja movido por uma abordagem de impacto. Não basta fazer, temos que ver se o que está a ser feito está a impactar o máximo de segmentos da nossa sociedade”, explicou, exemplificando que nada interessa ter uma estrada 100 por cento financiada e executada no deserto sem impacto nenhum.
"Temos que alterar esses paradigmas e fazer com que os jovens sejam impactados, o ambiente não seja degradado, o género seja garantido e que possamos ter uma despesa para o próximo quinquénio com sabor a receita, porque precisamos de diversificar as nossas receitas públicas, saindo de uma dependência de 60 por cento do petróleo para uma menor do que a actual”, ressaltou.
Segundo o ministro, a delegação ao fórum termina um périplo pelos países da União Europeia (UE), passando pela República Checa, Alemanha, França e Portugal, onde a sua mensagem (de Portugal) é muito mais enraizada por causa dos laços económicos já existentes com Angola desde praticamente o século XV.
Fonte: Jornal de Angola
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