A Rússia pode suspender a participação no acordo de cereais até que todas as promessas dadas ao o país em tais acordos sejam cumpridas, disse, ontem, o PresidVladimir Putin ao canal de TV Rossiya-24.
"Podemos suspender a nossa participação neste acordo. E se todos reiterarem que todas as promessas que nos foram dadas serão cumpridas - que cumpram essas promessas. E vamos aderir imediatamente a este acordo. De novo”, disse Putin.
A variante de "extensão primeiro e cumprimento de promessas depois disso” não é mais adequada para a Rússia, enfatizou. "O cumprimento das promessas será num primeiro momento, seguido da nossa participação”, disse.
Entretanto, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, escreveu, na quarta-feira, uma missiva dirigida ao Presidente russo, onde apresenta uma proposta alternativa ao sistema SWIFT para ajudar o banco agrícola russo, RosselkhozBank, a fazer pagamentos relacionados às exportações de grãos do país.
De acordo com a chefe da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Rebeca Grynspan, a ONU encontrou maneiras alternativas de ajudar o banco russo a lidar com os pagamentos relacionados às exportações de grãos.
"Em relação ao Rosselkhozbank, conseguimos garantir alternativas, caminhos alternativos para o problema do SWIFT”, disse Grynspan a jornalistas.
Ainda segundo a alta funcionária da ONU, esta instituição está a tentar fornecer uma maneira mais rápida de conduzir as operações, mas esse é um dos problemas para os quais não encontrou soluções completas.
Guterres, enviou uma carta detalhada sobre a proposta para estender o acordo de exportação de grãos — formalmente conhecido como Iniciativa de Grãos do Mar Negro — por mais uns meses até que a União Europeia (UE) consiga conectar uma subsidiária do Rosselkhozbank ao SWIFT, disse o porta-voz das Nações Unidas, Stephane Dujarric, na quarta-feira.
A 22 de Julho de 2022, a Rússia, Ucrânia, Turquia e as Nações Unidas chegaram a um acordo para fornecer um corredor marítimo humanitário para navios com exportação de alimentos e fertilizantes dos portos ucranianos do Mar Negro. A ONU, por sua vez, comprometeu-se a facilitar as exportações de alimentos e fertilizantes da Rússia num momento em que Moscovo enfrenta sanções dos países e instituições internacionais.
Desde esta altura, a Rússia e a Ucrânia concordaram na extensão do acordo de grãos, que agora deve expirar a 17 de Julho (domingo), mas Moscovo tem reclamado que as suas exigências não foram cumpridas.
Por que foi necessário estabelecer este Acordo de Grãos do Mar Negro?
Com o arranque da guerra na Ucrânia, isso a 24 de Fevereiro de 2022, com o controlo do Mar Negro por parte da força marítima da Rússia, os navios ucranianos ficaram impedidos de circular livremente por este importante Porto considerado estratégico por especialistas.
Sendo a Rússia e a Ucrânia os dois principais exportadores de grãos do mundo, os países pobres foram os mais afectados, devido ao aumento dos preços globais dos alimentos.
O Programa Alimentar Mundial(PAM) da ONU alertou em Março do ano passado que a sua capacidade de alimentar cerca de 125 milhões de pessoas estava ameaçada porque 50% dos seus grãos vinham da Ucrânia.
Entre 2018-2020, a África importou 3,7 biliões de dólares em trigo (32% do total das importações africanas de trigo) da Rússia e outros 1,4 bilião de dólares da Ucrânia (12% do total das importações africanas de trigo).
A ONU disse no ano passado que 36 países contam com a Rússia e a Ucrânia para mais da metade das suas importações de trigo, incluindo alguns dos mais pobres e vulneráveis, como Líbano, Síria, Iémen, Somália e República Democrática do Congo (RDC).
Sob o Acordo de Grãos do Mar Negro, mais de 625 mil toneladas de grãos foram enviadas até agora pelo PAM para operações de ajuda no Afeganistão, Etiópia, Quénia, Somália e Iémen.
Em 2022, o PAM adquiriu mais da metade dos grãos de trigo globais da Ucrânia.
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